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Tatiana Roque: "O Brasil precisa de data centers para fortalecer sua soberania"

Secretária de Ciência e Tecnologia do Rio afirmou à TV 247 que o país deve investir em infraestrutura própria para garantir independência digital

Tatiana Roque defende a instalação de data centers no País (Foto: Brasil 247)

247 – A secretária de Ciência, Tecnologia e Inovação da cidade do Rio de Janeiro, Tatiana Roque, defendeu que o Brasil precisa atrair e construir data centers nacionais como parte de uma estratégia para fortalecer sua soberania digital. Em entrevista à TV 247, Tatiana afirmou que a infraestrutura tecnológica é condição essencial para que o país não dependa das Big Techs estrangeiras e possa desenvolver ferramentas próprias de inteligência artificial (IA).

 “A palavra-chave pra gente entender isso é soberania. A inteligência artificial traz ameaças muito graves à soberania nacional. Não se trata de construir data centers pelo data center em si, mas de garantir que o Brasil tenha infraestrutura própria para desenvolver ferramentas de IA soberanas”, afirmou Tatiana Roque.

Soberania digital e o controle dos dados

Tatiana explicou que cerca de 60% dos dados brasileiros estão armazenados na Virgínia, nos Estados Unidos, o que, segundo ela, representa um risco à autonomia nacional. A secretária alertou que, devido ao Cloud Act, as empresas norte-americanas podem acessar informações de usuários estrangeiros, mesmo que os dados estejam hospedados em outros países.

 “O fato de os dados físicos estarem com a gente já faz diferença. É essencial para a soberania desses dados”, destacou.

Ela elogiou a estratégia do governo federal, que mantém dados sensíveis sob responsabilidade de empresas estatais como o Serpro e o Dataprev, e citou o Projeto Redata, do Ministério da Fazenda, como uma política acertada para ampliar a presença de data centers no país.

O programa prevê a reserva de parte da capacidade dos novos data centers para empresas brasileiras e a criação de um fundo de desenvolvimento de inteligência artificial nacional, a ser administrado pelo BNDES. “Essa é uma forma de estimular o surgimento de serviços de nuvem e de IA genuinamente brasileiros”, explicou Tatiana.

O papel do Rio de Janeiro na nova economia digital

A secretária afirmou que o Rio de Janeiro está se posicionando como um polo estratégico de inovação tecnológica, com o projeto Rio AI City, apoiado pela Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial (ABDI). A iniciativa tem como objetivo fazer da cidade provedora de serviços de inteligência artificial para a indústria nacional, aproveitando a formação acadêmica e a infraestrutura local.

 “O Rio forma pessoas muito bem, mas muitos talentos acabam deixando a cidade por falta de oportunidades. Queremos criar estímulos para manter esses cérebros aqui”, disse Tatiana, que também é professora da UFRJ.

Ela destacou ainda que a prefeitura está adquirindo um supercomputador e montando um Centro de Inteligência Artificial em parceria com universidades e instituições de pesquisa como o IMPA, PUC-Rio e CBPF, para desenvolver soluções tecnológicas voltadas à gestão pública e aos serviços ao cidadão.

Energia limpa e estratégia nacional

Questionada sobre o alto consumo de energia dos data centers, Tatiana reconheceu o desafio, mas ressaltou que o Brasil possui uma vantagem competitiva por contar com abundância de energia renovável, especialmente de origem hidrelétrica.

 “A estratégia é aproveitar essa janela de oportunidade que o Brasil tem, com energia renovável em abundância, para desenvolver um projeto tecnológico que garanta autonomia e gere empregos qualificados”, explicou.

Segundo ela, a instalação de data centers deve estar inserida em um projeto coordenado de desenvolvimento nacional, que combine tecnologia, sustentabilidade e geração de conhecimento.

Competição global e oportunidades

Tatiana também abordou a disputa global entre Estados Unidos e China pelo domínio da inteligência artificial e elogiou o posicionamento multilateral do Brasil, que permite dialogar com diferentes países e empresas.

 “O data center que estamos estimulando aqui no Rio é brasileiro, mas as Big Techs podem alugar espaço nele. Isso é importante porque garante receita, tecnologia e, ao mesmo tempo, espaço reservado para empresas nacionais”, afirmou.

A secretária revelou que o primeiro grande projeto carioca será implementado na região do Centro Metropolitano, próxima ao Parque Olímpico, aproveitando a infraestrutura elétrica e de telecomunicações deixada pelas Olimpíadas de 2016.

A visão de futuro

Ao final da entrevista, Tatiana defendeu que o país precisa sair da “armadilha neoextrativista”, conceito do filósofo Marcos Nobre, e investir em tecnologia de ponta para crescer de forma sustentável.

 “O maior desafio da economia brasileira hoje é sair da dependência de exportar matérias-primas e importar produtos de alta tecnologia. Para isso, precisamos dominar duas áreas: inteligência artificial e transição energética”, afirmou.

Tatiana concluiu dizendo estar otimista com a COP 30, que será realizada em Belém, destacando o foco do governo em planos de implementação concretos.

“A COP brasileira está priorizando a implementação, e isso é um grande acerto. É hora de mostrar resultados reais”, finalizou.

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