Rússia avança lentamente na Ucrânia e não há mais estratégia capaz de derrotá-la, diz Breno Altman
Jornalista diz que Europa e governo Zelensky vivem um impasse e que a paz exige admitir perdas territoriais
247 - Durante participação no Bom Dia 247, o jornalista Breno Altman avaliou que o conflito na Ucrânia chegou a um ponto em que a Europa e o governo de Volodymyr Zelensky já não dispõem de alternativas militares capazes de reverter o avanço russo. A análise foi feita ao comentar declarações do chanceler Serguei Lavrov e o cenário das negociações internacionais.
Altman afirmou que Moscou consolidou uma posição de força no campo de batalha que altera as condições de qualquer diálogo. Segundo ele, a atual ofensiva russa impede que os governos europeus apresentem uma saída que não represente reconhecimento de derrota.
“A guerra é uma guerra perdida”
Altman descreveu o impasse enfrentado por Kiev e seus aliados. “Tanto o governo Zelenski quanto os governos europeus estão num beco sem saída. Essa guerra é uma guerra perdida”, afirmou. Ele argumentou que uma eventual negociação precisaria aceitar mudanças territoriais já consolidadas pela Rússia.
“A Rússia já ocupa alguma coisa como 16, 17% do território ucraniano, todo o Donbass, a região leste, que é de maioria étnica russa”, explicou. De acordo com Altman, a reivindicação de Moscou é clara: “O objetivo russo é chegar em todo o Donbass, o que daria uns, somando com a Crimeia, uns 20% do território ucraniano, que é o preço da paz.”
Pressões internas nos Estados Unidos e o papel do atual presidente Donald Trump
Ao analisar o comportamento de Washington, Altman disse que Donald Trump age sob pressões domésticas e eleitorais. “Trump deseja, por razões internas, sair da guerra, porque é uma das suas promessas de campanha. Ele está caindo na popularidade”, observou.
Segundo Altman, o governo norte-americano já havia negociado um plano de paz com a Rússia, mas o documento foi rejeitado pela União Europeia e por Kiev. Houve tentativa posterior de revisão dos termos, que novamente não avançou.
Limites da capacidade militar ucraniana
O jornalista destacou a dificuldade da Ucrânia em recompor suas forças. Ele mencionou relatos de mobilização compulsória para ilustrar o desgaste: “Eles estão capturando na mão porque eles não têm mais soldados, eles não têm mais contingente militar.”
Altman também descreveu os riscos embutidos nas alternativas consideradas por aliados europeus. A primeira seria fornecer armas de longo alcance capazes de atingir cidades russas. A segunda, ainda mais arriscada, seria o envio de tropas europeias ao front.
Essa hipótese, segundo ele, equivaleria a transformar o conflito em uma guerra de escala global. “Isso é a mundialização da guerra. Isso é transformar a guerra na Ucrânia numa guerra mundial”, alertou.
Europa sem estratégia e Rússia em posição de vantagem
Na avaliação de Altman, as declarações de Moscou de que a Europa teria abandonado qualquer negociação de paz refletem a falta de margem para recuo. Para ele, governos europeus que apostaram no apoio militar irrestrito à Ucrânia enfrentam agora o custo político de uma derrota.
“A Europa está às voltas junto com o Zelenski de alguma estratégia que possa contar com a aquiescência norte-americana, alguma estratégia para tentar reverter, ainda que parcialmente, a presença militar russa no território ucraniano”, afirmou.
Ele acrescentou que a Rússia avança de forma gradual e consistente: “Ela vai como um urso passo a passo tomando território. A Rússia não tem pressa.”
Margem estreita para negociações
Altman concluiu que as condições atuais não oferecem alternativas viáveis para uma solução negociada que preserve as expectativas da Ucrânia ou da União Europeia. Para ele, Moscou continuará a impor seu ritmo até que as partes aceitem discutir os termos colocados.
“A Rússia vai continuar com a guerra, mas só que a Rússia não pode ser mais vencida. Não existe estratégia para vencer a Rússia”, afirmou, ao projetar que o conflito se encaminha para uma redefinição territorial consolidada pelo avanço militar de Moscou. Assista:



