“O governo não pode manter em cargos quem traiu a base”, diz Carlos Zarattini
Deputado afirma que interferência deTarcísio de Freitas levou à derrota de M.P. e defende que o governo federal corte espaços de aliados infiéis
247 - O deputado federal Carlos Zarattini (PT-SP) avaliou que a recente derrota do governo na Câmara dos Deputados, envolvendo uma medida provisória de impacto fiscal, foi resultado direto da articulação política do governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas. As declarações foram feitas em entrevista ao programa Boa Noite 247.
Segundo Zarattini, o Palácio do Planalto havia construído um acordo para aprovar o texto, que incluía concessões e o apoio de partidos como PP, União Brasil e Republicanos. No entanto, o cenário mudou com a entrada em cena de lideranças estaduais e nacionais da oposição. “Nós vimos o governador do estado de São Paulo atuar fortemente junto com o Ciro Nogueira do PP, junto com Rueda do União Brasil para derrubar a medida provisória”, relatou o deputado.
Pressão sobre bancadas e racha em partidos da base
De acordo com Zarattini, Tarcísio de Freitas chegou a ligar pessoalmente para parlamentares pedindo votos contrários ao texto. Essa movimentação teria gerado pressões adicionais, já que deputados mantêm cargos vinculados ao governo estadual e dirigentes partidários controlam fundos eleitorais. “Isso fez uma pressão muito grande sobre as bancadas e acabou que a gente teve, ontem, praticamente uma traição lá na comissão mista”, afirmou.
O parlamentar destacou que o governo esperava uma margem confortável na votação, mas terminou vencendo por apenas um voto. “Nós tínhamos combinado o apoio do PP, o apoio do União Brasil, o apoio do Republicanos. Seriam mais três votos para nós. Então poderíamos ter chegado a 16 votos contra apenas nove da oposição. Mas ali já teve uma primeira traição e agora ficou escancarada essa interferência do governador de São Paulo”, disse.
Zarattini também mencionou a participação de Gilberto Kassab, presidente do PSD, que teria atuado contra a medida, embora parte significativa de sua bancada tenha votado com o governo.
Impacto fiscal e alternativas
O deputado lembrou que a não aprovação da medida provisória representa perda estimada de R$10 bilhões em 2025 e de R$20 bilhões no ano seguinte, segundo cálculos do Ministério da Fazenda. Questionado sobre saídas para recompor a arrecadação, ele destacou que a equipe do ministro Fernando Haddad dispõe de diversos instrumentos.
“O Ministério da Fazenda é muito potente, tem condições de operar de muitas formas. Não só tem decreto sobre impostos regulatórios, como o IOF e o IPI, como tem diversas medidas que podem ser feitas através de portaria, Banco Central, Conselho Monetário Nacional”, explicou. Zarattini também levantou a possibilidade de reedição de temas por meio de novas medidas provisórias ou projetos de lei com urgência.
Relação com a base e defesa de cortes em cargos
Para o deputado, o episódio exige uma resposta firme do governo em relação a partidos e parlamentares que ocupam cargos mas não oferecem sustentação política. “Nós vamos dar nome aos bois. Nós temos a lista de quem votou contra, de quem tem cargo no governo. Eu, pelo menos, acho que o governo não pode se furtar a tirar cargos daqueles que não cumpriram com o mínimo, que é apoiar o governo”, declarou.
Zarattini rejeitou a ideia de que essa postura seria retaliação. “Quem tá retalhando contra o governo são esses deputados. Quem foi agredido aí, quem tá apanhando, é o governo. Se você tem dentro do governo uma pessoa que não apoia, que toda hora sabota, vamos continuar com essa turma dentro do governo? Deu, né?”, afirmou.
Perspectivas políticas
O parlamentar avaliou ainda que a derrota faz parte de um cenário em que Tarcísio de Freitas assume posição de liderança na oposição. “Agora ele tá na linha do quanto pior, melhor. Ele quer prejudicar o governo, inclusive com uma mentira absurda de que o governo vai ter mais 20 bilhões para gastar. Esses 20 bilhões ajudariam o governo a cumprir a meta fiscal, não são para gastar”, ressaltou.
Na visão de Zarattini, a disputa política deve se intensificar, mas o governo manterá as condições de governabilidade até as eleições. “Nós vamos entrar agora na votação da LDO e do orçamento. São os dois projetos mais importantes e não vejo muita coisa polêmica além disso. Depois, o Brasil vai para o voto, que é o mais importante”, concluiu. Assista:


