“O consórcio é o da morte”, diz Genoino sobre governadores que apoiaram operação no Rio
Ex-presidente do PT critica endurecimento penal e acusa grupo de governadores de transformar tragédia em palanque eleitoral
247 - O ex-presidente nacional do PT, José Genoino, afirmou em entrevista ao Bom Dia 247, da TV 247, que a reunião de governadores no Rio de Janeiro para discutir segurança pública representa “um consórcio da morte” e não uma política de paz. As declarações foram dadas em meio à repercussão da operação policial que deixou mais de 100 mortos em comunidades fluminenses.De acordo com o portal G1, o encontro, articulado pelo governador Cláudio Castro (PL), contou com chefes de Executivos estaduais alinhados à direita e foi anunciado como a criação de um “consórcio da paz”. Para Genoino, no entanto, a iniciativa busca legitimar a violência como política pública e instrumentalizar o medo da população em nome de interesses eleitorais. “Você tem uma segurança em que os matáveis são levados a acreditar nos matadores”, declarou.
Crítica ao modelo de segurança pública
Genoino avaliou que o Brasil vive a “falência do modelo de segurança pública”, baseado em ações espetaculares e repressivas que não atacam as causas estruturais da violência. “O que está em debate é se nós temos uma segurança pública da matança, em que a população é vítima do crime organizado e do aparato policial”, disse. Segundo ele, “não há uma segurança pública que defenda a sociedade e as pessoas”, mas sim uma lógica de guerra voltada contra os mais pobres.
O ex-deputado ressaltou que episódios como o do Complexo da Penha repetem padrões de chacinas anteriores — como Carandiru (1992) e Jacarezinho (2021) — e produzem o mesmo resultado: “matança que não resolve”. Para ele, “essa operação foi um massacre contra a população que eles usam como vítima para apoiar os matadores”.
“Consórcio do sangue”
A crítica de Genoino se concentrou na aliança entre governadores que defenderam a ação no Rio. “Essa reunião dos governadores, eu chamo de consórcio da paz, o consórcio da morte, o consórcio do sangue, o consórcio da demagogia eleitoreira”, afirmou. Segundo ele, o grupo utiliza o discurso da segurança pública para “faturar politicamente sobre o sofrimento da população”.
O ex-presidente do PT comparou a postura de Cláudio Castro a de líderes autoritários latino-americanos. “Ele está fazendo o que Netanyahu fez em Gaza: cria o massacre e o genocídio para ter apoio da extrema direita”, disse, associando também o caso ao modelo de repressão de Nayib Bukele, em El Salvador, e Daniel Noboa, no Equador.
Proposta de reestruturação nacional
Genoino defendeu que o governo federal encare o tema como prioridade estratégica, com a criação de um Ministério da Segurança Pública autônomo e de caráter civil. “A segurança pública tem que ter comando centralizado e atuação transversal com outras áreas do Estado”, argumentou. Ele também defendeu a desmilitarização das polícias, a valorização profissional dos agentes e a integração entre União, estados e municípios.
Segundo o ex-parlamentar, “o governo Lula precisa colocar a segurança pública no centro das estratégias políticas”, para evitar que a extrema direita monopolize o debate. Ele ainda afirmou que o Executivo deveria ter reagido com mais rapidez à operação do Rio: “Faltou uma pronta resposta imediata. O governo demorou a agir, e a extrema direita ocupou o espaço”.
Segurança pública como política de Estado
Ao final da entrevista, Genoino afirmou que o país precisa adotar uma política de segurança pública baseada em inteligência e prevenção, e não em ações militares. “A desmilitarização não é acabar com a PM. É mudar a concepção de segurança pública como ato de guerra”, explicou.
Para ele, o papel do Estado deve ser o de proteger a vida e garantir direitos, não o de alimentar o ciclo da violência. “Nós temos que desmontar esse discurso da guerra. Eles querem que a vítima seja complacente com os matadores, mas segurança pública não é matar. Segurança pública é proteger”, concluiu. Assista:


