"Lula pode estar dando uma guinada para o confronto", diz Mario Vitor
Jornalista analisa sinais de mudança na estratégia política do Planalto, com Lula adotando tom mais agressivo e voltado à mobilização popular
247 - O jornalista Mario Vitor Santos afirmou que o governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva demonstra sinais de mudança em sua estratégia política, adotando um tom mais incisivo e voltado ao confronto direto com adversários no Congresso e na sociedade.
Segundo Santos, “o governo está assumindo uma atitude distinta nos últimos tempos em relação ao confronto político”. Ele observou que, ao menos na retórica, Lula “partiu para uma linha política mais agressiva”, o que indicaria o início de uma nova estratégia voltada às eleições municipais de 2026. O jornalista apontou que essa guinada estaria sendo guiada por dados internos. “Parece que isso deve estar baseado em levantamentos, em pesquisas, em trackings, pelo menos eu espero”, afirmou. Para ele, Lula estaria “mais seguro em romper ou tensionar as pontes com o centro e o centrão” e “partir para uma disputa mais tensa, de muita pegada, contra os seus adversários”.
Mario Vitor Santos destacou que o Palácio do Planalto tem dado sinais de desgaste nas relações com partidos do centro político e com o Centrão, especialmente após votações recentes no Congresso. Um exemplo, segundo ele, é a lista de exonerações de indicados políticos desses grupos, divulgada por integrantes do governo, mas que “ainda não foi levada a ferro e fogo”. Para o jornalista, o processo de “depuração” na base aliada pode indicar uma tentativa do governo de redefinir suas alianças. “Há esse confronto criado com os traidores do Centrão”, disse. “Vamos acompanhar se nos próximos tempos essa depuração será levada mais adiante.”
Santos também citou como sinal dessa nova postura a nomeação de Guilherme Boulos para a Secretaria-Geral da Presidência, função que, segundo ele, tem o objetivo de “levar o governo para o povo”. “Isso significa tentar suprir o que o governo considera uma insuficiência de comunicação e articulação com os movimentos populares”, avaliou.
O jornalista lembrou que Lula demonstrou “grande insatisfação” com a falta de mobilização das bases progressistas e movimentos sociais. “Há uma grande insatisfação do presidente Lula em relação à falta de mobilização das entidades, dos militantes, dos simpatizantes em relação à mobilização de rua”, disse. Segundo ele, o governo parece disposto a “organizar ele mesmo” os movimentos populares. “O Palácio resolveu se encarregar da ignição desses movimentos”, afirmou, apontando que a nomeação de Boulos reflete essa tentativa de reativar a militância.
Entre os episódios que indicam o endurecimento da postura presidencial, Santos citou falas recentes de Lula sobre o Congresso. “Quando o presidente diz que este é o pior Congresso da história, ele praticamente afirma a necessidade de se distanciar do centro político”, observou. Para o jornalista, essa mudança pode significar uma aposta em uma “candidatura mais puro-sangue” nas próximas eleições. “Há uma caminhada em direção a uma separação, um distanciamento do centro e uma aproximação com uma frente mais de esquerda”, afirmou.
Ainda que reconheça o cenário favorável na economia — com inflação em queda e desemprego no menor nível histórico —, Mario Vitor Santos considera que a radicalização de Lula pode ser arriscada. “Talvez não houvesse razão para tanta intranquilidade do presidente Lula e para um movimento tão radicalizado no enfrentamento com a direita”, disse.
O jornalista avaliou que Lula parece “confiante” para disputar um novo ciclo político, mas alertou para os riscos dessa postura. “Eu tenho a impressão de que o presidente está querendo ir para cima. Ele parece se sentir muito empoderado”, afirmou. Santos relacionou essa autoconfiança também à projeção internacional de Lula e à recente aproximação com o atual presidente dos Estados Unidos, Donald Trump. “O presidente Lula se sente mais forte e mais seguro, como se tivesse subido para outra liga — a liga internacional dos grandes líderes”, disse.
Ao concluir sua análise, Mario Vitor Santos ponderou que a nova tática pode consolidar apoio popular, mas exige cuidado para não isolar o governo. “As eleições de 2026 serão difíceis. O antipetismo ainda é forte, e a direita tem muito peso. Será preciso definir claramente quem são os aliados e os adversários”, concluiu. Assista:


