Juliane Furno: “Brasil não se curvou a Trump e pode sair fortalecido”
Juliane Furno afirma que postura soberana do governo Lula pode reverter impactos das tarifas e isolar os EUA no cenário internacional
247 - Durante participação no programa Boa Noite 247, a economista Juliane Furno analisou as implicações da política tarifária anunciada pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, e avaliou a resposta do governo brasileiro diante do novo cenário comercial. Segundo ela, a decisão do governo Lula de não se submeter à pressão norte-americana pode não apenas proteger setores estratégicos da economia nacional, como também consolidar uma posição de força no sistema internacional.
A entrevista ocorreu em meio à repercussão de um pacote tarifário proposto por Trump que previa sobretaxas de até 50% sobre produtos importados de países como o Brasil. Para Furno, a medida faz parte de uma tentativa dos Estados Unidos de reafirmar sua hegemonia diante de um cenário de perda de influência global. “Ele fez uma aposta no terreno da geopolítica e da geoeconomia. É uma tentativa de curvar o principal país da América do Sul aos interesses e às medidas elaboradas desde os Estados Unidos”, declarou.
Segundo a economista, ao não ceder imediatamente às exigências norte-americanas, o Brasil demonstrou capacidade de articulação e sinalizou disposição para buscar alternativas comerciais fora do eixo hegemônico. “O governo Lula fez muito bem ao estabelecer uma mesa de negociação e reafirmar a soberania brasileira”, afirmou.
Juliane ressaltou que o comércio entre Brasil e Estados Unidos é superavitário para os norte-americanos, o que, segundo ela, torna qualquer retaliação recíproca uma ameaça concreta à economia dos EUA. “Se o Brasil adota uma política de reciprocidade, o país mais afetado são os próprios Estados Unidos”, disse.
Ela argumentou que parte da estratégia do governo brasileiro está na diversificação dos parceiros comerciais e na tentativa de ampliação de mercados nos países do BRICS e no Sul Global. Essa estratégia, segundo ela, pode mitigar os danos para setores exportadores de alto valor agregado, como a indústria aeronáutica. “É possível cavar uma série de mercados consumidores nessas economias que têm as maiores taxas anuais de crescimento”, afirmou.
Juliane também comentou as tratativas em curso entre representantes do governo brasileiro e autoridades norte-americanas, como o vice-presidente Geraldo Alckmin e o ministro das Relações Exteriores, Mauro Vieira. Apesar da tensão diplomática, ela acredita que ainda há espaço para uma solução negociada, especialmente após declarações de Trump indicando a possibilidade de isenção tarifária para alguns produtos que os EUA não produzem internamente. “Estou otimista. A jogada do governo Lula foi pedir seis numa partida de truco. Agora, os Estados Unidos devem apresentar uma proposta alternativa”, disse.
Para ela, o episódio marca um reposicionamento geopolítico brasileiro, ao se recusar a negociar em termos assimétricos. “O Brasil não se curvou e buscou elaborar medidas de compensação e de afirmação da soberania”, concluiu.
A entrevista também abordou outros temas como as reservas internacionais brasileiras, as perspectivas para a taxa Selic e o impacto das tarifas sobre setores estratégicos como a Embraer, mas Juliane voltou a reforçar que o ponto central é o recado enviado ao mundo: o Brasil não aceitou uma posição subalterna. “Essa proposta tarifária pode se tornar um tiro no pé dos Estados Unidos.” Assista:
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