João Cezar de Castro Rocha: “Lula está sitiado pelos EUA”
O historiador e professor analisa as tensões políticas internas e externas ao governo Lula e alerta para os desafios de 2026
247- Em uma entrevista ao programa Boa Noite 247, o escritor, historiador e professor João Cezar de Castro Rocha fez uma análise contundente da situação política brasileira. Para ele, o governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) se encontra em um estado de cerco, não apenas dentro do país, mas também em relação aos Estados Unidos. A posição de Castro Rocha vai além das questões internas, tocando em um cenário geopolítico em que o Brasil enfrenta pressões externas significativas, em especial do governo norte-americano.
De acordo com o professor, o governo Lula enfrenta desafios inéditos e uma oposição crescente, que, segundo ele, vem sendo alimentada por uma "estratégia montada na Casa Branca", uma referência direta à intervenção americana em assuntos internos de outros países. Para ele, o governo está sendo atacado não só pela mídia corporativa e pela elite brasileira, mas também por uma pressão direta dos Estados Unidos, algo que ele classifica como mais intenso do que o enfrentado por outros governos brasileiros no passado, como o de João Goulart em 1964.
“Hoje o governo do presidente Lula está mais abertamente sitiado pelo governo americano do que o governo João Goulart em 64”, afirmou Castro Rocha. A comparação com a situação política do Brasil nas décadas de 1950 e 1960 não é casual. Segundo o historiador, há um padrão de desestabilização orquestrado externamente para enfraquecer os governos progressistas. Ele fez referência a um “manual da CIA”, utilizado historicamente para criar instabilidade política em países que se afastam da linha conservadora e alinhada aos interesses dos EUA, como ocorreu em golpes na Guatemala, Brasil e Chile.
Castro Rocha alertou também sobre a importância das eleições de 2026. Ele sugeriu que a extrema-direita, representada principalmente por figuras do bolsonarismo, está preparando um caminho para deslegitimar as eleições presidenciais. “Se o bolsonarismo desistir de disputar a presidência, toda a energia política será concentrada nas eleições para o Senado”, explicou. Para ele, a estratégia da extrema-direita é clara: enfraquecer a democracia e criar um ambiente em que as eleições sejam desacreditadas, à semelhança do que aconteceu na Venezuela com o opositor Juan Guaidó, apoiado pelos EUA para se autoproclamar presidente.
O professor também destacou a mudança no cenário político interno, com o bolsonarismo tentando radicalizar ainda mais sua agenda. Ele observa que, enquanto a oposição brasileira se aproxima de um "suicídio político" com ações extremas de figuras como o governador Tarcísio de Freitas, a estratégia de desgaste do governo Lula não é apenas interna, mas inclui um jogo de forças mais amplo, no qual os Estados Unidos desempenham um papel central.
Além disso, o historiador criticou o comportamento da mídia corporativa, que, segundo ele, tem permitido que se normalize discursos e atitudes que, há poucas décadas, seriam impensáveis. A forma como certos políticos brasileiros têm se alinhado com os interesses dos EUA, até mesmo simbolicamente, com manifestações de apoio a figuras como Donald Trump, foi também uma questão levantada por Castro Rocha. Ele apontou uma foto de Eduardo Bolsonaro com a bandeira norte-americana, que, em sua visão, é um reflexo claro dessa subordinação a potências estrangeiras.
Para o futuro próximo, a análise do historiador é que o governo de Lula pode alcançar números históricos positivos, como o recorde de empregos e crescimento do PIB. No entanto, ele reforçou que, apesar dos avanços econômicos, o governo segue vulnerável devido às pressões internas e externas que tentam minar sua estabilidade.
Castro Rocha alertou ainda para a possibilidade de uma "conjuração internacional" contra o Brasil, com os EUA exercendo uma influência direta nas eleições brasileiras. Ele afirma que o objetivo é, por meio de um projeto de desestabilização, criar condições para um possível golpe, muito similar ao que ocorreu em países latino-americanos no passado. O professor finalizou afirmando que a eleição de 2026 será crucial, pois poderá definir não apenas o futuro político do Brasil, mas também sua posição no cenário internacional.
Com isso, a situação política do Brasil segue um curso incerto, com o governo Lula sendo desafiado por forças internas e externas, num jogo complexo de poder, mídia e interesses internacionais. Assista: