João Cezar de Castro Rocha: "Brasil é o principal alvo da extrema direita mundial"
Historiador afirma que bolsonarismo integra ofensiva transnacional e alerta para tentativa contínua de desestabilização da soberania brasileira
247 - Em entrevista ao programa Boa Noite 247, o historiador e escritor João Cezar de Castro Rocha alertou para o papel central do Brasil no projeto da extrema direita global, classificando o país como "o principal alvo da extrema direita mundial". Segundo ele, a atual conjuntura política brasileira repete estratégias articuladas historicamente por interesses internacionais, sobretudo dos Estados Unidos, com o objetivo de impedir a consolidação de um projeto nacional soberano.
Golpes híbridos e desestabilização internacional
Para João Cezar, a atual ofensiva contra o governo de Luiz Inácio Lula da Silva faz parte de uma longa tradição de intervenções norte-americanas na América Latina. Ele comparou o momento político atual ao período entre 1961 e 1964, que precedeu o golpe militar, destacando a atuação de instituições como o IBAD e o IPES, financiadas por capital estrangeiro para desestabilizar governos nacionalistas.
"Entre 61 e 64 este país viveu um típico golpe de Estado planejado pela CIA", afirmou. Segundo ele, a atuação da extrema direita hoje retoma essa mesma lógica: "O que está em jogo no Brasil hoje é um processo permanente de tentativa de desestabilização do governo Lula".
João Cezar também lembrou que a CIA financiou greves de caminhoneiros no Chile antes do golpe de 1973. Em sua avaliação, há semelhanças com o incentivo atual à paralisação de caminhoneiros no Brasil por setores bolsonaristas. "Já começou uma nova postagem: ‘se os caminhoneiros pararem, você apoia?’”, relatou, associando a movimentação ao histórico de ações desestabilizadoras.
A atuação de Donald Trump e o papel da soberania nacional
O historiador apontou que o governo brasileiro tem reagido de forma eficaz diante dessas ameaças, como ao acionar a Organização Mundial do Comércio (OMC) para denunciar a tentativa de ingerência externa por parte dos Estados Unidos, sob a presidência de Donald Trump.
“É indispensável que o Brasil consiga apoio na comunidade internacional para resistir à pressão que virá”, afirmou. Para ele, o governo Lula tem adotado a postura correta ao manter um discurso forte: “Historicamente, a única forma de enfrentar um valentão com a psicologia do Trump é encará-lo. Se você baixar a cabeça, acabou”.
João Cezar citou uma fala recente de Lula à jornalista Christiane Amanpour, da CNN, como exemplo dessa firmeza: “Se o presidente Trump estivesse no Brasil e tivesse tentado o Capitólio, ele estaria preso no Brasil”.
Entreguismo, militarização da Amazônia e ataque à identidade nacional
Na avaliação do historiador, a extrema direita bolsonarista tem se comprometido com interesses estrangeiros e abandonado completamente qualquer ideal nacionalista. “Não pode haver patriotismo na terra estrangeira”, disse, ao comentar manifestações de apoio explícito de parlamentares bolsonaristas a Donald Trump, com uso da bandeira dos EUA no Congresso Nacional.
Ele também destacou o papel de Elon Musk no apoio ao bolsonarismo e seu interesse pela Amazônia. “O Elon Musk tem hoje mapeado todos os recursos militares da Amazônia melhor do que o governo brasileiro, porque a Amazônia só está conectada pelo satélite da Starlink”, alertou.
O bolsonarismo em crise de identidade
João Cezar sustenta que o bolsonarismo está enfraquecido ao trair sua suposta ideia-força: o patriotismo. “O bolsonarismo comprometeu seu principal capital político. Eles puseram boné, bateram continência pra bandeira dos Estados Unidos”, criticou.
Para ele, enquanto o lulismo tem uma ideia-força clara — inclusão social e soberania nacional —, o bolsonarismo se revela incapaz de sustentar um projeto de país. “Se amanhã o Lula dissesse que apoia a escala 6 por 1 ou é contra taxar os bilionários, o lulismo acabaria. Porque estaria contrariando sua ideia-força”, explicou.
Defesa da soberania como eixo de resistência
Ao final da entrevista, João Cezar defendeu a necessidade de união nacional para proteger a soberania brasileira diante do ataque articulado da extrema direita transnacional. “Do que se trata agora é de unir forças para defender o governo, unir forças para defender a soberania nacional e não hesitar na denúncia do comportamento absolutamente asqueroso desses deputados”, concluiu. Assista:
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