Genoino: “A anistia subiu no telhado”
Ex-presidente do PT afirma que mobilização popular enterrou a tentativa de blindagem de golpistas e cobra campanha permanente contra a anistia
247 - O ex-presidente do Partido dos Trabalhadores, José Genoino, avaliou em entrevista ao Bom Dia 247 que a conjuntura política brasileira sofreu uma inflexão a partir das manifestações de 21 de setembro e da derrota da chamada “PEC da blindagem” no Senado. Segundo ele, a mobilização popular foi determinante para barrar iniciativas que buscavam proteger parlamentares acusados de crimes e, ao mesmo tempo, garantir anistia a apoiadores de atos golpistas.
“A anistia subiu no telhado e nós temos que intensificar a campanha contra a anistia e essa meia boca de passar o lenço na cabeça dos golpistas”, afirmou Genoino, defendendo que a luta contra esse tipo de medida deve ser contínua e articulada pela esquerda.
Conjuntura e papel das ruas
Genoino destacou que os atos de setembro, com forte presença de jovens e diversidade de gerações, mudaram a postura do governo e da esquerda no enfrentamento político. “O Lula começou a falar com as ruas, dando entrevistas, fazendo inserções nas redes sociais e polarizando. A própria comunicação do governo sofreu uma alteração”, explicou.
Para o ex-deputado, a esquerda não pode se limitar às negociações parlamentares. “Nós não podemos tomar decisões olhando pelo retrovisor do Congresso Nacional. Temos que olhar pelas lentes das ruas, do sentimento popular”, afirmou, ressaltando que o processo de mobilização não se esgota em um único ato, mas é resultado de um acúmulo político.
Revisão da imunidade parlamentar
Ao comentar a derrota da PEC que ampliaria a proteção de parlamentares, Genoino recordou o histórico de debates sobre imunidade desde a Constituição de 1988. “A imunidade parlamentar é para o deputado falar, representar, votar e exercer o mandato. O mandato não é para praticar feminicídio, corrupção, assassinato, racismo ou pregar golpe de Estado”, disse.
Para ele, o episódio reforça a necessidade de rever todo o sistema político e eleitoral, que, segundo sua avaliação, mantém distorções herdadas da ditadura militar. “Nós temos que recolocar a política em outro patamar, porque a institucionalidade foi violentada pela criminalização da política e pelo surgimento de condições fascistas”, defendeu.
Governo e governabilidade
Genoino afirmou que a experiência recente mostra que a governabilidade não pode se limitar a acordos com o Congresso. “O Lula percebeu que a governabilidade que dá resultado é aquela que, além de dialogar e negociar, enfrenta, polariza e dialoga com as ruas”, declarou.
Segundo ele, a bancada do PT no Legislativo precisa resgatar seu papel histórico, evitando o que chamou de “acomodação parlamentar”. “A bancada tem que estar unida, polarizar e resgatar o papel histórico da esquerda”, completou.
Campanha permanente contra a anistia
Genoino reforçou que a luta contra tentativas de anistiar os envolvidos em atos golpistas não terminou com a derrota da PEC. Para ele, trata-se de um debate estrutural, que exige pressão social contínua.
“Temos que intensificar a campanha contra a anistia e contra essa tentativa de passar pano nos golpistas. A conjuntura mudou, mas só se sustenta se houver mobilização popular e coerência política”, concluiu. Assista: