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EUA tratam Brasil como ‘quintal’, denuncia Paulo Augusto Vivacqua

Engenheiro critica ingerência dos Estados Unidos e alerta para risco de submissão também à China

EUA tratam Brasil como ‘quintal’, denuncia Paulo Augusto Vivacqua (Foto: Brasil247)

247 - Em entrevista à jornalista de Hildegard Angel, na TV 247, o engenheiro Paulo Augusto Vivacqua, ex-presidente da VALEC e da Academia Nacional de Engenharia, fez duras críticas à política externa dos Estados Unidos em relação ao Brasil. Para ele, a visão americana de que a América Latina é um “quintal” se mantém viva, sendo reafirmada recentemente até por declarações oficiais de Washington.

Vivacqua, que também teve papel estratégico no desenvolvimento do complexo de Carajás e no setor ferroviário brasileiro, afirmou que o Brasil é alvo de um processo histórico de subordinação. “Aqui foram mais de centenas de intervenções militares, diplomáticas e econômicas. Golpes de Estado, ocupações, bloqueios e até corrupção como arma estratégica. Os Estados Unidos sempre trataram nossa região como propriedade deles”, destacou.

Riquezas do Brasil sob disputa

O engenheiro ressaltou que o Brasil, com sua imensa extensão territorial, biodiversidade e população de mais de 215 milhões de habitantes, possui todos os elementos para ser uma potência soberana. Porém, segundo ele, a elite política e econômica, historicamente vinculada a interesses externos, impede esse salto. “Temos metade da América do Sul sob nossa jurisdição. Isso é um capital extraordinário, mas estamos eternamente presos à condição de país subdesenvolvido”, disse.

Ele alertou também para a crescente influência chinesa no país, comparando-a à pressão norte-americana. “Corremos o risco de sair das mãos de um império para cair nas garras de outro. Os chineses já compram estatais e deslocam empresas brasileiras, inclusive as pequenas”, afirmou.

Corrupção e entreguismo

Vivacqua destacou ainda a chamada “corrupção estratégica”, prática utilizada por potências estrangeiras para abrir caminho em países em desenvolvimento. Ele mencionou a observação do ministro Luís Roberto Barroso sobre o “pacto de saque ao Estado”, que envolveria burocracia, empresários e políticos brasileiros. “Essa corrupção interna abre todas as portas à corrupção externa, que é usada por impérios para penetrar nos países”, analisou.

O engenheiro também criticou a privatização da Vale, classificando-a como “um saque”. Ele lembrou que a estatal, criada por Getúlio Vargas, foi fundamental para consolidar o Brasil como potência mineral, mas acabou entregue a investidores estrangeiros em governos posteriores. “Fernando Henrique deu de graça a Vale, e com ela, entregamos também o conhecimento sobre nosso subsolo e nossas riquezas minerais”, afirmou, em tom de indignação.

Soberania em risco e papel da mídia

Para Vivacqua, o maior desafio é reconstruir a noção de orgulho e nacionalismo no país, abalada desde a ditadura militar, quando o movimento estudantil foi reprimido. Ele defende a criação de um movimento nacionalista democrático, que una diferentes setores sociais em torno da defesa da soberania. “Se desmonto a ideia de nacionalismo, desarmo o país. O jovem de classe média hoje quer ir para fora, não pensa em construir o Brasil”, lamentou.

Ele também criticou a grande mídia, que, segundo ele, contribuiu para deslegitimar estatais como a Petrobras e justificar privatizações. “A mídia passa batido sobre os temas centrais de soberania e foca em problemas triviais, quando não mente para desvalorizar nossas riquezas e entregá-las ao exterior”, disse.

Risco de submissão global

Vivacqua ainda chamou atenção para a pressão simultânea de Estados Unidos e China, que buscam explorar os recursos estratégicos brasileiros, especialmente minerais raros essenciais para a indústria tecnológica. Ele alertou para o risco de o Brasil ser empurrado a uma posição subalterna no cenário internacional.

Apesar das ameaças, o engenheiro elogiou a política externa do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que, segundo ele, tem buscado equilíbrio entre potências sem se subordinar. “O Brasil precisa afirmar-se como soberano, democrático e nacionalista. Não podemos ser caudatários nem dos Estados Unidos, nem da Europa, nem da China”, concluiu. Assista: 

 

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