"Classificar facções como terroristas é abrir as portas para uma intervenção externa", diz Eugênio Aragão
Em entrevista, ex-ministro levanta suspeita de que a própria chacina pode ter sido uma espécie de armação para justificar a intervenção. Assista na TV 247
247 - O ex-ministro da Justiça Eugênio Aragão criticou em entrevista à TV 247 as articulações e discursos promovidos pela direita, após a chacina policial no Rio de Janeiro, realizada no último dia 28 e que resultou em ao menos 121 mortos.
Aragão criticou o discurso "fácil" de "toma lá, dá cá", no qual "o Estado é uma besta fera enfrentando uma outra besta fera, que é o crime organizado". "Esse discurso agrava o problema, pois aumenta a propensão social à violência", avaliou Aragão.
Ele também cobrou de governantes mais empatia pelos inocentes mortos e a qualificou a operação da polícia do governador Cláudio Castro como um "fracasso".
"É muito fácil diabolizar todos mortos como bandidos, mas fato é que mães e parentes choram as mortes. Não é assim que o Estado trabalha, dizendo que todos são bandidos", frisou, acrescentando que as raízes do problema da criminalidade no país estão nas falhas do sistema penitenciário.
"Tudo é decorrente de uma falência da política penitenciária", destacando que a maioria dos centenas de milhares de presos no Brasil "vivem sob condições desumanas", ponderou Aragão.
Terrorismo
O ex-ministro criticou ainda a tentativa da direita de emplacar uma nova definição do conceito de terrorismo no Brasil, buscando classificar oficialmente facções criminosas, como o Comando Vermelho, alvo declarado da megaoperação policial, de tal forma.
"Não há um estudo sério sobre terrorismo no Brasil. Por definição, o terrorismo é um tipo de violência política, tem um aspecto político/ideológico, valendo-se da violência para aterrorizar a população e obter seus fins. Esses grupos podem usar métodos de terrorismo, como bombas e explosões, mas não é por razões políticas, porque são motivos criminais", disse Aragão.
Ele também levantou a suspeita de que a própria chacina pode ter sido uma espécie de armação para justificar a intervenção armada no país pelo governo do presidente dos EUA, Donald Trump:
"A direita, que governa os EUA, quer usar esse conceito de terrorismo para aplicá-lo na América do Sul, que eles acham que é seu quintal. A região não tem esse tipo de problema, e sim de elevada violência em virtude da desigualdade social. Qualificar isso como terrorismo é abrir as portas para uma intervenção externa, o que certos setores da direita brasileira querem isso, e buscaram isso, sem sucesso, porque não se conformam que perderam as eleições. Isso é um uso sem vergonha de uma tragédia para fins políticos. Podemos até nos questionar se tudo isso não foi proposital. Não desconfio de nada".


