Alysson Mascaro: “ligação de Trump a Lula é sintoma da crise do imperialismo”
Alysson Mascaro analisa como a desorganização interna dos EUA expõe fragilidades do império e redefine as relações com o Brasil
247 - No programa Brasil Agora da TV 247, o jurista e filósofo Alysson Mascaro avaliou que o recente telefonema entre o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, e o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, é um reflexo da crise estrutural do imperialismo norte-americano.
Segundo Mascaro, o episódio “é mais um indício, mais um traço dessa característica que nos revela o paradoxo e a dificuldade do império estadunidense em se manter”. Ele explicou que, historicamente, nenhuma potência imperialista caiu sem antes recorrer à guerra. No entanto, hoje os Estados Unidos enfrentam uma peculiaridade: apesar de manterem poderio militar e influência global, sua base econômica encontra-se desorganizada.
A lógica do neoliberalismo como elo fraco
Mascaro destacou que, desde o século XIX, o poder imperialista se estruturava na combinação entre força militar e controle econômico. No entanto, a ascensão do neoliberalismo, a partir da década de 1970, provocou uma desarticulação interna. “Os Estados Unidos não têm mais estruturas básicas de abastecimento, de saúde ou de educação, porque o neoliberalismo não permite”, afirmou.
Essa fragilidade, segundo o filósofo, cria contradições quando Washington tenta impor medidas unilaterais. Ele citou o aumento de tarifas sobre produtos brasileiros durante o governo Trump como exemplo: “Ao dizer ergo a tarifa para 50%, faltou combinar com a coesão interna dos Estados Unidos. O estadunidense médio passou a pagar mais caro pelo café. Esta desorganização vem da própria lógica do neoliberalismo”.
O “elo fraco” do império
Inspirando-se em uma análise clássica de Lenin, Mascaro afirmou que, apesar de os EUA seguirem fortes militarmente, seu “elo fraco” é justamente a incapacidade de organizar a economia interna. “Resultado: basta o preço alto do café para toda a política do Trump ter que ajoelhar no milho e voltar para trás”, disse.
Para ele, esse quadro distingue os Estados Unidos de potências como Rússia e China, que ainda possuem capacidade estatal de planejamento. “A Rússia, na hora que teve a guerra com a Ucrânia, reorganizou a economia internamente. A China consegue realocar recursos pela máquina estatal. Os Estados Unidos não podem, porque seu mercado desregulado impede”, analisou.
Brasil no tabuleiro geopolítico
Na visão de Mascaro, a ligação de Trump a Lula ilustra esse cenário de fragilidade imperial. O gesto, que poderia ser lido como mera diplomacia, representa, para o filósofo, um sintoma da dificuldade dos EUA em sustentar sua posição hegemônica. “De tal modo que o Lula, tendo a coragem de não se submeter aos caprichos do Donald Trump, uma hora o Trump resolve dizer que o Lula é lindo e tiveram uma química. Isto é fraqueza do neoliberalismo estadunidense”, concluiu. Assista:


