HOME > Brasil

Governo Lula quer "descontaminar" relação Brasil-EUA

Objetivo é seguir linha pragmática e impedir que a questão Bolsonaro atrapalhe as conversas com Trump

Lula e Donald Trump - 23 de setembro de 2025 (Foto: Reuters)

247 - O governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) está intensificando esforços para restaurar a confiança mútua com os Estados Unidos, após uma crise diplomática que abalou as relações entre os dois países. A atual estratégia do governo é afastar os temas de política interna brasileira da agenda bilateral, a fim de evitar que questões como as que envolvem Jair Bolsonaro (PL) interfiram nas conversas com Washington.

De acordo com o jornal O Globo, o receio em Brasília é que o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, que mantém uma aliança com Bolsonaro, tente influenciar a política interna brasileira durante o período eleitoral de 2026. Tal intervenção poderia prejudicar ainda mais os investimentos e o comércio bilateral entre os países. O governo Lula, portanto, trabalha para "descontaminar" a relação com os EUA e focar em aspectos mais pragmáticos da parceria.

Embora o telefonema recente entre os presidentes Lula e Trump tenha sinalizado a retomada do diálogo, fontes próximas ao governo afirmam que a resolução completa dos impasses não ocorrerá rapidamente. A principal prioridade neste momento é buscar a remoção de sanções que afetam cidadãos brasileiros, como as imposições sobre o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Alexandre de Moraes. Além disso, o Brasil está empenhado em resolver a sobretaxa de 50% aplicada sobre produtos brasileiros desde agosto deste ano.

Uma reunião entre os dois presidentes deve ocorrer em breve, com a Malásia surgindo como um dos locais mais prováveis para o encontro, à margem da cúpula da Associação de Nações do Sudeste Asiático (ASEAN), no final de outubro. Contudo, fontes brasileiras admitem, em caráter reservado, que se o encontro não acontecer em Kuala Lumpur, será difícil agendar um novo encontro ainda este ano, a menos que Trump decida participar da COP30, em Belém (PA), em novembro, o que é considerado improvável.

Em uma demonstração do pragmatismo de Washington, o secretário de Estado dos EUA, Marco Rubio, telefonou para o chanceler brasileiro Mauro Vieira. Durante a conversa, acertaram uma reunião em Washington, prevista para meados da próxima semana. Rubio acompanhará Trump em uma viagem ao Egito, caso a visita seja confirmada.

Fontes diplomáticas brasileiras acreditam que os Estados Unidos estão revisando sua postura em relação ao Brasil por motivos essencialmente pragmáticos. O governo americano teria reconhecido que não pode continuar negligenciando a relação com o Brasil, especialmente porque produtos consumidos em grande escala pelos americanos, como café e carnes, ficaram consideravelmente mais caros. Durante a conversa com Lula, Trump teria destacado que o povo americano sente falta do café brasileiro.

Além disso, há uma percepção de que a pressão política conduzida pela Casa Branca não gerou os resultados esperados. Embora o governo brasileiro esteja cauteloso e aguardando os próximos passos nas conversas bilaterais, as perspectivas de uma aproximação mais sólida são vistas com otimismo, em grande parte devido ao caráter pragmático que tem norteado as interações recentes.

Artigos Relacionados

Carregando anúncios...