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"A crise nos empurrou para a esquerda", diz Genoino sobre mobilizações e disputa política no Brasil

Ex-presidente do PT aponta oportunidade histórica de ruptura com o neoliberalismo e defende retomada da identidade da esquerda

"A crise nos empurrou para a esquerda", diz Genoino sobre mobilizações e disputa política no Brasil (Foto: ABR)

247 - No programa Forças do Brasil, transmitido ao vivo pela TV 247, o ex-deputado federal e ex-presidente nacional do PT José Genoino fez uma análise contundente sobre a conjuntura política brasileira e a recente mobilização popular que tomou as ruas do país. Para ele, o atual cenário representa uma chance inédita de reorganização das forças progressistas diante do avanço da extrema direita. “A crise nos empurrou para a esquerda”, resumiu Genoino, numa das frases mais emblemáticas da entrevista.

A declaração foi feita durante conversa com o jornalista Mário Vitor Santos, em que Genoino analisou a repercussão das manifestações do dia 21 de setembro, realizadas contra a chamada “PEC das prerrogativas” — apelidada por setores da sociedade de “PEC da impunidade” ou “PEC da bandidagem”. O ex-parlamentar destacou que os atos sinalizam não apenas indignação popular, mas uma virada estratégica: “Criou-se um polo alternativo à extrema direita e às articulações da direita neoliberal. Essa é a grande novidade da conjuntura.”

Um novo ciclo iniciado nas ruas

A análise de Genoino atribui ao discurso do presidente Lula na Assembleia Geral da ONU, também no dia 21 de setembro, um papel central no atual reposicionamento político do governo. Em sua visão, houve ali uma inflexão na governabilidade baseada em concessões e uma guinada em direção ao enfrentamento direto da crise social, econômica e institucional.

“O discurso do Lula junta três elementos centrais: soberania nacional, democracia com decisões sobre os golpistas e a pauta do povo. É uma mudança de qualidade na construção de um projeto político”, afirmou Genoino. Ele também enfatizou a força simbólica das ruas: “A voz rouca das ruas tornou-se voz estridente. O povo falou alto”.

Imunidade ou impunidade?

Genoino, que foi constituinte em 1988, demonstrou preocupação com o uso distorcido das prerrogativas parlamentares. Para ele, a imunidade prevista na Constituição tem por objetivo proteger a ação política e o exercício do mandato, e não blindar crimes comuns. “A imunidade não pode cobrir crimes inafiançáveis, imprescritíveis, como o golpe de Estado”, alertou.

Ele criticou duramente o que considera um desvirtuamento da proposta original da Constituição e associou a tentativa de aprovar a PEC à articulação por uma anistia aos envolvidos nos atos golpistas de 2022 e 2023. “A extrema direita cometeu um erro monumental ao vincular a PEC à ideia de anistia. Quando se é muito esperto, o povo desconfia”, declarou.

Autocrítica à esquerda e lições ao PT

Ao mesmo tempo em que apontou os perigos de retrocessos institucionais, Genoino fez autocrítica à esquerda, especialmente ao Partido dos Trabalhadores. Criticou os deputados petistas que votaram a favor da PEC e defendeu a retomada da disciplina política no parlamento: “O direito de falar é universal, mas o voto tem que ser com a maioria. O partido é um contrato coletivo, não um clube de vontades individuais.”

Ele também lamentou que a direção do partido não tenha fechado questão sobre o tema, o que, segundo ele, permitiu a dispersão dos votos. “Houve um erro político. A direção deveria ter orientado a bancada. Não estou falando de traição, mas de falta de clareza estratégica”, pontuou.

Preparar a esquerda para 2026

Com olhos voltados para a próxima disputa presidencial, Genoino advertiu que o embate será ainda mais acirrado. Para ele, a elite econômica e o imperialismo buscarão limitar a capacidade transformadora do governo Lula. “A eleição de 2026 será radicalizada. Eles tentarão forçar alianças ao centro para impedir mudanças estruturais, ou, se puderem, vão buscar a derrota direta”, previu.

Nesse contexto, Genoino defendeu que o PT e os partidos de esquerda reforcem suas alianças, redefinam estratégias e, sobretudo, recuperem sua identidade. “Quando a esquerda perde sua identidade, ela se enfraquece. Não podemos ser domesticados. Temos que ser uma alternativa real diante da crise.”

Segundo o ex-deputado, as manifestações do dia 21 de setembro não representam um ponto de chegada, mas sim o início de uma nova caminhada. “As ruas criaram um polo dinâmico contra o neoliberalismo e a extrema direita. É uma oportunidade histórica que não podemos desperdiçar.” Assista: 

 

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