Participação da China nas importações brasileiras cresce e já chega a 26% do total
Com aumento nas compras de carros, eletrodomésticos e bens de consumo, país asiático amplia presença no mercado brasileiro e preocupa a indústria nacional
247 – A presença da China nas importações brasileiras alcançou um novo recorde no primeiro semestre de 2025, consolidando o país asiático como o maior fornecedor de bens de consumo ao Brasil. De acordo com reportagem da Folha de S.Paulo, baseada em dados divulgados nesta segunda-feira (14) pelo Icomex (Indicador de Comércio Exterior) do FGV Ibre (Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getúlio Vargas), a participação da China nas compras externas brasileiras já chega a 26%, superando com folga os Estados Unidos, que respondem por 16%.
O crescimento ocorre em um contexto de guerra comercial impulsionada pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, em seu segundo mandato. Ao mesmo tempo em que o governo norte-americano adota medidas protecionistas, a China amplia a sua ofensiva comercial, sobretudo nos mercados emergentes como o Brasil. Segundo o Icomex, houve um aumento expressivo de quase 12% no volume de bens de consumo duráveis comprados do país asiático no primeiro semestre de 2025, em relação ao mesmo período do ano passado. Maio foi o mês mais expressivo, com alta de 110% nas importações em relação a maio de 2024.
O setor automotivo se destaca como um dos principais vetores dessa alta. Um dos exemplos mais expressivos foi o desembarque de 7 mil carros da marca BYD, no porto de Itajaí, em Santa Catarina, somente no mês de maio. Este foi o quarto desembarque da montadora no ano no Brasil, apenas em Itajaí, sem contar outras montadoras chinesas, tanto de veículos elétricos quanto a combustão.
A escalada preocupa a indústria automobilística brasileira. Conforme dados da Anfavea (Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores), os carros chineses já ocupam 6% do mercado nacional. Enquanto as vendas de veículos fabricados no Brasil cresceram apenas 2,6% no semestre, as de importados subiram 15,6%, impulsionadas principalmente pelos modelos vindos da China.
Nem mesmo o aumento da tarifa de importação de veículos elétricos e híbridos, implementada pelo governo brasileiro, conseguiu frear o avanço. Desde o início de julho, a alíquota para veículos elétricos passou de 18% para 25%, e para híbridos de 25% para 30%. Apesar disso, fontes do setor relatam que, para algumas montadoras chinesas, ainda é mais vantajoso importar carros do que produzi-los localmente.
Além dos veículos, o avanço chinês também se manifesta em outros segmentos de consumo. “Houve mudança estrutural no comércio com a China, e o Brasil vai importar cada vez mais bens de consumo”, afirma a pesquisadora associada do FGV Ibre e professora da Uerj, Lia Valls, em entrevista à Folha. Ela explica que, com o mercado interno chinês saturado, as empresas buscam ampliar exportações para países de renda média alta, como o Brasil.
O impacto é visível também no setor de eletrodomésticos, especialmente refrigeradores, ar-condicionado e celulares. Desde 2021, a China ocupa a liderança nas exportações de geladeiras para o Brasil, superando antigos fornecedores como Coreia do Sul, México e Tailândia. Também houve aumento expressivo nas importações de bens de consumo não-duráveis, como têxteis, com alta de 40% em volume no primeiro semestre deste ano, em comparação com o mesmo período de 2024.
Apesar do crescimento em quantidade, os valores pagos pelos brasileiros diminuíram. Segundo o Icomex, o valor total desembolsado em bens de consumo duráveis da China caiu 18,4%, enquanto os bens de consumo não-duráveis tiveram queda de 2,1% em valor. A queda nos preços evidencia o desafio da indústria nacional em competir com produtos chineses mais baratos.
A transformação do comércio exterior brasileiro também impactou a participação dos Estados Unidos na balança comercial. Se em 2001 o país norte-americano respondia por 23% das importações brasileiras, hoje caiu para 16%. O relatório da FGV ressalta que a queda está ligada ao avanço da China e não a decisões específicas de política comercial brasileira. “Esse resultado se explica por mudanças nas vantagens comparativas dinâmicas e não por uma deliberação de políticas brasileiras”, aponta o estudo.
Com essa reconfiguração do comércio internacional, o Brasil segue ampliando sua dependência de produtos chineses, uma tendência que se consolida em diversas áreas da economia, aumentando a preocupação da indústria nacional com a concorrência asiática.
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