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Mercados entram em pânico e vendem títulos dos EUA após tarifaço de Trump

Juros de Treasuries disparam e superam 5% em meio a temores de recessão e reação global à nova guerra comercial

Donald Trump e Bolsa de Valores em queda (Foto: REUTERS)
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247 - Os mercados financeiros globais enfrentaram uma das mais intensas liquidações de títulos de longo prazo do Tesouro dos Estados Unidos desde os momentos mais críticos da pandemia de Covid-19, em 2020. O gatilho dessa nova onda de turbulência foi a entrada em vigor da tarifa global imposta pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, que reacendeu o temor de uma recessão internacional e aprofundou as incertezas sobre a dívida americana.

A fuga dos investidores chama atenção por se tratar dos Treasuries, considerados por décadas como o ativo mais seguro do planeta. Nesta quarta-feira (9), os juros dos papéis de 30 anos ultrapassaram 5% ao ano — um patamar que não se via desde o auge das tensões pandêmicas, destaca o jornal O Globo, citando a Bloomberg. A elevação das taxas de retorno revela um esforço maior do governo norte-americano para atrair compradores para seus títulos, ao custo de um risco de crédito percebido como mais elevado.

“Não vejo movimentos ou volatilidade desse tamanho desde o caos da pandemia. É uma verdadeira venda maciça de Treasuries”, relatou Calvin Yeoh, gestor da Blue Edge Advisors. Nos últimos três pregões, os rendimentos dos títulos de 30 anos subiram cerca de 0,4 ponto percentual — o maior salto desde novembro de 2020. Só nesta quarta-feira, a taxa subiu 0,2 ponto percentual, atingindo 4,79% e, em alguns momentos, superando 5%.

A alta das taxas reflete, em parte, o impacto imediato do pacote tarifário anunciado por Trump, que dificulta a capacidade de reação do Federal Reserve diante de uma possível recessão e pode pressionar a inflação global. Analistas alertam que as consequências podem ser duradouras.

Há ainda especulações de que bancos centrais de grandes economias, como a China, estejam revendo suas exposições à dívida americana. Embora essas decisões dificilmente sejam divulgadas em tempo real, dados oficiais mostram que tanto Pequim quanto Tóquio já vinham reduzindo sua participação nos Treasuries nos últimos meses.

“A China pode estar vendendo como retaliação às tarifas”, afirmou Kenichiro Kitamura, do Meiji Yasuda, em Tóquio. “Os Treasuries estão se movendo por fatores políticos, e não pela dinâmica de oferta e demanda.”

Com mais de US$ 3,2 trilhões em reservas internacionais, a China é o maior detentor global de ativos externos — grande parte deles denominados em dólar. Por isso, qualquer alteração no comportamento chinês em relação aos Treasuries impacta diretamente a estabilidade dos mercados.

A disparada dos juros tem efeitos imediatos sobre o consumidor americano: pressiona taxas de hipotecas, crédito estudantil, financiamentos de veículos e encarece o custo de endividamento do governo e das empresas. Isso coloca em xeque promessas como a do secretário do Tesouro, Scott Bessent, de baratear o crédito no país.

Na mesma toada, os rendimentos dos títulos soberanos de outras potências também subiram, com destaque para Reino Unido, Austrália e Japão — mas o foco dos traders se manteve sobre os Treasuries, cuja reação foi considerada atípica. Normalmente, em tempos de tensão, esses títulos se valorizam. Desta vez, o movimento foi inverso.

Na terça-feira (8), o leilão de títulos de três anos do Tesouro dos EUA registrou uma demanda abaixo do esperado. O mercado passou a monitorar com atenção a nova oferta de US$ 39 bilhões em papéis de 10 anos, prevista para esta quarta, e o leilão de títulos de 30 anos na quinta-feira.

Ainda conforme a reportagem, operadores citam o receio de que grandes instituições estejam vendendo ativos em ritmo acelerado para gerar liquidez. Fundos de hedge também podem estar sendo forçados a encerrar posições com prejuízo — acionando gatilhos automáticos de stop loss —, o que agrava ainda mais a volatilidade.

“Estamos entrando em uma espiral negativa que não vai terminar bem, pois a excepcionalidade dos EUA continua sendo desvalorizada”, disse Sophie Huynh, estrategista do BNP Paribas Asset Management.

O conceito de “excepcionalidade americana” — que sustenta o papel dos Estados Unidos como centro de gravidade dos mercados financeiros globais — começa a ser questionado. Essa ideia sustenta a confiança histórica nos Treasuries e no mercado acionário americano como pilares de segurança, mesmo em cenários de crise.

“Estamos entrando em território desconhecido no sistema financeiro global”, alertou George Saravelos, chefe de estratégia do Deutsche Bank. “Se a recente turbulência no mercado de Treasuries continuar, não restará outra opção ao Fed a não ser intervir com compras emergenciais para estabilizar o mercado de títulos.”

Apesar do cenário adverso, alguns gestores mantêm a crença na resiliência dos Treasuries. Leah Traub, da gestora Lord Abbett, que administra US$ 217 bilhões, argumenta que os títulos ainda se comportaram como proteção em março, quando o mercado precificava riscos de desaceleração econômica nos EUA.

“No caso de uma recessão nos EUA ou global, ainda acreditamos que os investidores voltarão aos Treasuries”, afirmou ela.

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