Mercado financeiro prevê Selic mantida em 15% e adia início dos cortes de juros
Expectativa é que o Banco Central mantenha tom conservador e só comece a reduzir a taxa básica de juros em 2026
247 - O mercado financeiro aposta que o Banco Central (BC) não deve alterar a taxa básica de juros, atualmente em 15% ao ano, na reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) marcada para quarta-feira (5). Mesmo com sinais de desaceleração da economia e melhora nas expectativas de inflação, analistas avaliam que o BC manterá uma postura conservadora, adiando o início do ciclo de cortes.
De acordo com levantamento do jornal Valor Econômico, que ouviu 120 instituições financeiras, há consenso de que a Selic permanecerá no patamar atual. A pesquisa mostra que o otimismo com a possibilidade de cortes ainda em 2025 perdeu força — enquanto em setembro 30% dos entrevistados esperavam uma redução neste ano, agora menos de 10% sustentam essa previsão. A maioria passou a projetar o início do afrouxamento monetário apenas em 2026.
Comunicação conservadora
Os especialistas apontam que a mudança nas expectativas foi influenciada pela comunicação do Banco Central. Apesar de sinais de arrefecimento da inflação e da atividade econômica, o BC deve manter o discurso de cautela. “As variáveis estão indo na direção que o Banco Central gostaria. Temos melhora na dinâmica da inflação e sinais de desaceleração da atividade e do mercado de trabalho. Mas as condições para o corte ainda não estão dadas”, afirma Alexandre Bassoli, economista-chefe da Apex Capital.
Bassoli acredita que o Copom deve preservar o tom duro das mensagens recentes. “Seguir enfatizando que as expectativas estão altas e que o mercado de trabalho continua aquecido é essencial. O colegiado pode reconhecer os avanços, mas precisa manter a prudência”, diz. A Apex projeta que o primeiro corte ocorra apenas em janeiro, com um ciclo modesto de 2,5 pontos percentuais.
Juros altos e inflação em queda
Segundo Bassoli, a combinação de inflação cadente e juros nominais elevados tende a elevar ainda mais o juro real da economia. “Se o BC mantiver a Selic constante, o juro real vai ficando cada vez mais alto, e por isso ele tende a fazer um ajuste. Um ciclo, porém, historicamente modesto”, explica o economista.
Para Luiz Maciel, economista-chefe do Bahia Asset, o BC deve continuar com a estratégia atual, que tem mostrado resultados positivos. “Tendo uma postura dura, o BC conseguiu um cenário em que a inflação dá sinais de melhora e as expectativas também estão melhorando. A melhor estratégia é manter o grau de restrição, inclusive no discurso”, afirma.
Maciel estima que o modelo do BC deve projetar inflação de 3,2% no horizonte relevante, abaixo dos 3,4% divulgados na decisão anterior. Ele classifica o momento como de “calmaria perfeita”, com fatores externos e domésticos contribuindo para a queda da inflação. “A dúvida no mercado é se o corte começa em janeiro ou março, mas vivemos um período favorável para essa discussão”, diz.
Cautela deve prevalecer até 2026
Adauto Lima, economista-chefe da Western Asset, concorda que a melhora das expectativas inflacionárias não deve alterar o tom do Copom. “O BC vai usar essa surpresa inflacionária benigna para desinflacionar um pouco mais a economia e buscar a convergência para a meta, ainda que lentamente”, avalia. Para ele, setores como serviços e o mercado de trabalho continuam resilientes, o que impede o início dos cortes.
Mauricio Une, estrategista do Rabobank para a América do Sul, também acredita que a reunião desta semana repetirá o tom do encontro anterior. “O plano de voo é basicamente o mesmo. O balanço de riscos segue igual, e o comunicado deve ser praticamente um ‘copia e cola’”, afirma. Segundo ele, o BC deve minimizar a melhora das expectativas de inflação e manter a menção a um ciclo “bastante prolongado” de juros altos.
Perspectivas para o ciclo de cortes
A Western Asset prevê uma redução inicial da Selic em janeiro de 2026, começando com 0,25 ponto percentual e acelerando para 0,5 ponto a partir de março, encerrando o ano em 12%. Já o Rabobank aposta em um corte mais agressivo, de 1 ponto percentual, apenas em abril, levando a taxa a 14%.
“O Copom só ficará confortável para reduzir a Selic quando tiver todos os dados do último trimestre de 2025 em mãos”, diz Une. Segundo ele, o ritmo dos cortes será calibrado de acordo com o câmbio e o desempenho da economia, mantendo a prudência que tem marcado a política monetária recente.


