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Isenção do IR deve impulsionar consumo e injetar até R$ 28 bi na economia em 2026

Nova faixa de isenção para quem ganha até R$ 5 mil deve beneficiar a classe média e reduzir desigualdades

Lula - 12/06/2025 (Foto: Ricardo Stuckert/PR)

247 -A aprovação no Congresso da proposta do governo Lula (PT) que eleva a faixa de isenção do Imposto de Renda (IR) para rendas mensais de até R$ 5 mil promete aliviar o orçamento da classe média e estimular o consumo no próximo ano. A medida também reduz a tributação para salários de até R$ 7.350, o que pode gerar um impacto significativo no crescimento econômico.

De acordo com o jornal O Globo, a nova tabela, aprovada pelo Senado e encaminhada à sanção do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, pode injetar entre R$ 20 bilhões e R$ 28 bilhões na economia em 2026. O texto prevê uma alíquota mínima de 10% para rendas superiores a R$ 50 mil mensais, garantindo a compensação fiscal necessária.

Classe média é a principal beneficiada

Embora o governo destaque que a mudança busca favorecer os mais pobres, os dados da Tendências Consultoria mostram que o maior impacto ocorrerá entre contribuintes de classe média. Atualmente, a faixa de isenção vai até R$ 3.036 — o equivalente a dois salários mínimos. O estudo indica que 51% dos beneficiados estão no Sudeste, com predominância em São Paulo, enquanto Norte e Nordeste terão impacto limitado, com 5,7% e 13,4% dos contemplados, respectivamente.

O perfil dos contribuintes que deixarão de pagar o imposto inclui, majoritariamente, homens brancos, empregados com carteira assinada no setor privado e ensino superior completo. “Essas pessoas estão longe de serem pobres”, observa o economista Thiago Xavier, da Tendências, que assina o estudo junto de Giuliana Folego.

Alívio no bolso e planos de consumo

Para muitos brasileiros, o benefício representa a chance de reorganizar o orçamento. A professora Fernanda Martins, de 32 anos, moradora do Rio de Janeiro, relata que pretende usar a folga tributária para investir na casa própria. "O meu ganho mensal permite cobrir os gastos fixos, mas sobra muito pouco para qualquer outro tipo de planejamento. Juntar, guardar, investir são coisas muito difíceis. A sobra é mínima. Essa folga vai me permitir investir numa casa com mais segurança, precisando de margem menor de financiamento. É um dinheiro que faz toda a diferença. Também vai me dar mais tranquilidade para lidar com as emergências do dia a dia, como a compra de um remédio, uma atividade de lazer para a minha filha, uma roupa ou algum utensílio para casa", afirmou.

Segundo o economista Paulo Henrique Pêgas, do Ibmec-RJ, quem ganha R$ 5 mil por mês deixará de pagar cerca de R$ 300 mensais, o que representa uma economia anual próxima de R$ 3,9 mil, considerando o 13º salário.

Efeito sobre o consumo e o endividamento

Especialistas apontam que parte do ganho pode ser usada para quitar dívidas antes de virar consumo direto. "Como o endividamento está alto, essas famílias deverão quitar algumas dívidas, e aí partir para o consumo", analisa Marcos Pazzini, da consultoria IPC Marketing. Ele explica que o público beneficiado está entre a classe C e a faixa mais baixa da classe B — consumidores que priorizam alimentação, aluguel e saúde, mas que aproveitam folgas no orçamento para melhorar bens domésticos.

Pazzini acrescenta que a medida pode incentivar a compra de eletroeletrônicos em 2026, especialmente por causa da Copa do Mundo: "Ano que vem vai ter Copa do Mundo, e alguns poderão querer trocar a TV. Se financiar em dez vezes, mesmo com os juros altos, talvez possam conseguir pagar porque terão folga com o IR menor".

Impacto econômico e social

Estudos da Tendências, da Fundação Getulio Vargas (FGV) e do Centro de Pesquisa em Macroeconomia das Desigualdades (Made/USP) estimam que a medida pode movimentar de R$ 20 bilhões a R$ 28 bilhões. Para o pesquisador Guilherme Klein, do Made e professor da Universidade de Leeds, o novo formato reduz, ainda que modestamente, a desigualdade tributária.

Aprovação popular e cenário político

A mudança no IR chega em um contexto de juros altos e baixo desemprego, combinando políticas de estímulo ao consumo com desafios macroeconômicos. Segundo pesquisa da Quaest em parceria com a Genial Investimentos, 79% dos eleitores aprovam a medida, e 90% acreditam que ela trará alguma melhora financeira.

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