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Governo adia aplicação da Lei da Reciprocidade após sinal de Trump a Lula

Deliberação sobre retaliação comercial foi suspensa em meio à expectativa de diálogo entre Brasil e EUA na próxima semana

Donald Trump e Lula (Foto: Reuters)

247 - O governo brasileiro decidiu suspender temporariamente o andamento da Lei da Reciprocidade, mecanismo que poderia impor medidas contra os Estados Unidos em resposta a tarifas unilaterais aplicadas às exportações do Brasil. A votação, prevista para ocorrer na última terça-feira (23) durante reunião do Gecex (Comitê-Executivo de Gestão) da Camex (Câmara de Comércio Exterior), foi retirada de pauta pouco antes do início do encontro.

Segundo a Folha de S.Paulo, o adiamento coincidiu com o gesto do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, que manifestou abertura para um entendimento com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) durante discurso na Assembleia-Geral da ONU. O discurso ocorreu cerca de uma hora após o cancelamento da deliberação no colegiado brasileiro.

"Eu só faço negócios com pessoas de quem eu gosto", declarou Trump após um breve contato com o presidente brasileiro antes de discursar na ONU. "E eu gostei dele, e ele de mim. Por pelo menos 39 segundos nós tivemos uma química excelente, isso é um bom sinal".

Expectativa de diálogo direto entre os presidentes

De acordo com integrantes do governo, a decisão ficará em compasso de espera por, ao menos, uma semana. A agenda, no entanto, pode ser reavaliada em função de uma possível conversa entre Trump e Lula, prevista para a próxima semana. Em entrevista à jornalista Christiane Amanpour, da CNN, o chanceler Mauro Vieira afirmou que a interação deve ocorrer por telefone ou videoconferência. Apesar disso, Lula não descartou um encontro presencial. 

Divergências internas no governo

Fontes relataram que havia divisões dentro do Gecex sobre a melhor estratégia diante do impasse comercial. Parte dos integrantes defendia a aplicação imediata de medidas de retaliação, enquanto outros temiam novas sanções contra o Brasil e consideravam prudente esperar a evolução do diálogo com Washington.

Um técnico ouvido pela Folha avaliou que, em disputas comerciais, a intensidade da retaliação varia conforme os sinais emitidos pelo país que impôs as barreiras. Assim, a disposição do governo Trump em negociar tende a reduzir a pressa do Brasil em acionar a Lei da Reciprocidade.

Caminhos formais da lei e pressões empresariais

Em agosto, a Camex confirmou ter recebido do Itamaraty o pedido para abrir o processo de aplicação da lei. Caso fosse aceito, o colegiado deveria formar um grupo de trabalho para detalhar as ações, submeter a proposta a consulta pública e, por fim, levar o tema ao Conselho Estratégico da Camex para decisão final.

Para a reunião desta semana, estava previsto um relatório com análise do impacto econômico das tarifas impostas pelos EUA e a avaliação de sua conformidade com regras internacionais de comércio. O documento chegou a ser apresentado, mas sem deliberação final sobre os próximos passos.

A movimentação empresarial também pesa na condução do processo. Companhias como Embraer e JBS têm atuado nos bastidores para incentivar um entendimento direto entre os governos. Há três semanas, Joesley Batista, da JBS, se reuniu com Trump na Casa Branca e defendeu a busca por soluções negociadas, após a sobretaxa de 50% aplicada a produtos brasileiros.

O episódio reforça a expectativa de que a aproximação política entre Lula e Trump poderá definir os rumos da resposta brasileira na disputa comercial.

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