Financial Times: 'disputa sem precedentes' entre Brasil e EUA 'não mostra sinais de resolução rápida'
Jornal britânico afirma que nenhuma disputa com Trump é “intratável”, “mas o impasse não será fácil de resolver — e pode facilmente se agravar”
247 - A relação entre Brasil e Estados Unidos vive a pior crise em dois séculos, marcada por tensões políticas e econômicas que se entrelaçam com o julgamento de Jair Bolsonaro (PL). Segundo o Financial Times, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) resiste à pressão do presidente norte-americano Donald Trump, que impôs tarifas recordes de 50% sobre produtos brasileiros e exigiu que o governo interferisse no Supremo Tribunal Federal (STF) para interromper o processo contra Bolsonaro. Lula classificou a exigência como “inaceitável” e, em vez de procurar Trump, buscou apoio entre aliados do BRICS, conversando com o primeiro-ministro indiano Narendra Modi, com o presidente russo Vladimir Putin e com o líder chinês Xi Jinping.
O jornal britânico destaca que, embora Trump já tenha revertido confrontos diplomáticos no passado, este impasse não será fácil de resolver e pode se agravar. A raiz do conflito está no processo judicial que acusa Bolsonaro de tentar um golpe militar para permanecer no poder após a derrota eleitoral de 2022. As denúncias incluem plano para assassinar Lula e a organização da invasão de Brasília em 8 de janeiro de 2023. Em 7 de julho, Trump chamou o julgamento de “caça às bruxas” e pediu que fosse interrompido. Ignorado pelo STF, afirmou que o Brasil representava uma “ameaça incomum e extraordinária” à segurança nacional dos EUA e, além das tarifas, anunciou sanções contra o ministro Alexandre de Moraes e restrições de viagem a oito integrantes da Corte.
Trump, Bolsonaro e a pressão política
O Financial Times ressalta a ligação pessoal entre Trump e Bolsonaro, apelidado de “Trump dos Trópicos”, e observa que Lula, sem acesso direto à Casa Branca, aproveita politicamente a postura de enfrentamento. Para Bruna Santos, do Inter-American Dialogue, Trump “ameaçou com tarifas, mas com uma exigência política impossível de atender”, deixando Lula “sem saída”.
As medidas norte-americanas atingiram o agronegócio, base de apoio de Bolsonaro, ao taxar produtos como café, carne bovina, frutas frescas e açaí. Ainda assim, 43% das exportações brasileiras para os EUA foram poupadas, incluindo suco de laranja, minério de ferro e aeronaves. Como apenas 12% das exportações brasileiras têm os EUA como destino, analistas avaliam que o impacto no PIB será limitado — no máximo 0,6 ponto percentual.
STF mantém firmeza e ignora pressões
No Brasil, ministros do STF consideram o julgamento de Bolsonaro um teste crucial para a democracia e não pretendem ceder à pressão externa. Amigos de magistrados afirmam que o caso se apoia em “declarações, confissões, gravações e mensagens” e não tem caráter ideológico.
Em 3 de agosto, manifestações convocadas por apoiadores de Bolsonaro pediram a saída de Moraes e anistia aos envolvidos nos atos golpistas. Em São Paulo, alguns ergueram bandeiras dos EUA e declararam confiar em Trump para evitar que o Brasil “se torne uma nova Venezuela”.
Caminhos para negociação
Com a eleição presidencial de 2026 no horizonte, Lula ganhou fôlego nas pesquisas desde o início da crise, enquanto setores conservadores divergem sobre a reação às medidas de Trump. Celso Amorim, assessor especial de Lula, defende aprofundar relações no BRICS e diversificar mercados, enquanto empresários pedem moderação e diálogo.
Especialistas como Lucas de Aragão, da Arko Advice, acreditam que questões comerciais e políticas serão tratadas separadamente, abrindo espaço para acordos. O ministro da Fazenda, Fernando Haddad (PT), sugeriu negociações envolvendo minerais estratégicos e redução de barreiras para produtos americanos, como o etanol. Porém, um encontro virtual com o secretário do Tesouro dos EUA, Scott Bessent, foi cancelado de última hora.
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