HOME > Economia

Especialista diz que Brasil deve se unir à China – e não aos EUA – em terras raras

Cientista Gilberto Sá critica governo por cogitar acordo com os EUA e afirma que apenas a China domina tecnologia essencial para exploração dos minerais

Especialista diz que Brasil deve se unir à China – e não aos EUA – em terras raras (Foto: Freepik)

247 – O Brasil está mirando na direção errada ao considerar ceder às pressões dos Estados Unidos na área de terras raras. A avaliação é do químico e professor emérito da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), Gilberto Fernandes de Sá, um dos mais respeitados pesquisadores do país no tema. Em entrevista à Folha de S.Paulo, ele afirmou que, se o Brasil quiser de fato avançar nesse setor estratégico, deve se associar à China, e não aos EUA, porque “só os chineses dominam a tecnologia de separação e refino”.

Sá afirmou que não tem conseguido dormir desde que os EUA manifestaram interesse formal nos minerais estratégicos brasileiros e o governo de Lula admitiu que essa área pode entrar em negociações. “Estratégicamente, é realmente o futuro. Não é por acaso que o Trump está querendo tomar as terras raras na Ucrânia, na Groenlândia… E agora é aqui”, alertou.

Brasil abandonou liderança histórica

O pesquisador recorda que o país já esteve entre os mais avançados do mundo na tecnologia de separação de terras raras, especialmente graças ao trabalho do químico Pawel Krumholz, na antiga empresa Orquima. “Ele foi a pessoa que desenvolveu a tecnologia de separação de terras raras. No mundo! Todos os pesquisadores do mundo recebiam dele as amostras”, afirmou. Segundo Sá, após a estatização da Orquima, Krumholz “ficou fulo, não negociou suas patentes e deixou tudo no cofre”, e o Brasil perdeu a vantagem tecnológica.

Hoje, diz ele, nem o Brasil nem os Estados Unidos possuem domínio da tecnologia de separação. “Quem tem é só a China”, afirmou.

Crítica à estratégia do governo Lula

Gilberto Sá criticou a sinalização do presidente Lula de que o Brasil estaria aberto a empresas estrangeiras explorarem terras raras, desde que gerem emprego e não se limitem à exportação de minérios brutos. Para o acadêmico, a estratégia é insuficiente e ingênua: “Isso é uma bobagem. Se quiséssemos realmente acelerar esse processo, faríamos uma parceria com a China”.

Ele diz que já sugeriu ao governo, desde o primeiro mandato de Lula, a criação de um programa nacional com parcerias internacionais para retomada do domínio tecnológico. “Nunca foi levado a sério”, lamenta.

China como parceira estratégica

O especialista defende que a cooperação com a China é a via mais vantajosa para recuperar a soberania nacional nesse setor. “É com a China que podemos aprender mais, melhor e mais rápido na etapa mais crítica — a separação e a metalurgia fina”, explicou. Ele lembra sua relação com o cientista chinês Su Qiang, pioneiro nas pesquisas de terras raras naquele país, com quem desenvolveu projetos e intercâmbios acadêmicos.

Apesar de se declarar de esquerda e ex-militante do PC do B, Sá afirma que sua posição é técnica e baseada no interesse nacional: “Colaboração ampla, interesse nacional inegociável”.

Setor segue dominado por capital estrangeiro

Atualmente, a única mineradora de terras raras em operação no Brasil, a Serra Verde, tem capital americano e britânico e exporta toda a produção sem realizar a separação no país. Para o professor, isso mantém o Brasil na posição de mero fornecedor de matéria-prima: “Eles exportam o agregado de terra rara. E nós vamos ficar com o quê?”.

Artigos Relacionados

Carregando anúncios...