Energia renovável é "a maior oportunidade de crescimento econômico da história", diz Al Gore
"Se tomarmos ações com as soluções que estão disponíveis, a economia global iria ganhar US$ 43 trilhões”, defendeu o ex-vice-presidente dos EUA
247 - Durante um evento do setor privado realizado neste sábado (8) em São Paulo, o ex-vice-presidente dos Estados Unidos, Al Gore, defendeu que o investimento em energias renováveis representa “a maior e melhor oportunidade de crescimento econômico da história da humanidade”. O discurso antecedeu sua viagem a Belém, onde participará da COP30, a conferência das Nações Unidas sobre mudanças climáticas.
Segundo a Folha de S. Paulo, Gore comparou o cenário atual de investimentos em energia com o de uma década atrás: “Em 2015, dez anos atrás, 55% do investimento global em energia ia para os combustíveis fósseis, enquanto a energia limpa recebia 45%. No ano passado, essa proporção se inverteu completamente, e as renováveis receberam 65%”, afirmou.
Transição energética e compromisso global
Premiado com o Nobel da Paz em 2007, ao lado do IPCC (Painel Intergovernamental sobre Mudança Climática), Al Gore reafirmou que a transição energética é um processo irreversível. Mesmo após a saída dos Estados Unidos do Acordo de Paris, ele disse que o esforço mundial não deve ser interrompido: “Um país saiu. A equação não parece significante, mas 195 menos um não é igual a zero".
Com tom de urgência, ele lembrou uma lição de juventude: “Eu tinha um mentor, quando ainda estava na escola, que dizia que todos enfrentamos a mesma escolha na vida: entre o caminho difícil e o erro fácil. Como civilização, estamos confrontando essa mesma escolha, e o erro fácil é continuar usando o céu como um lixão. O caminho difícil e correto será fazer a transição rápida para longe dos combustíveis fósseis".
"A vontade política é um recurso renovável"
No Climate Implementation Summit, evento que reuniu lideranças empresariais e ambientais, Gore destacou que o mundo já dispõe das ferramentas e do conhecimento necessários para reduzir as emissões de carbono. “Nós temos as tecnologias, nós temos os modelos para aplicar. Algumas pessoas temem que não tenhamos vontade política suficiente. Mas sempre lembrem que vontade política é um recurso renovável”, disse, sendo aplaudido pelo público.
O ex-vice-presidente afirmou ainda que seu trabalho tem sido traduzir o conhecimento científico de forma acessível: “O que eu fiz em toda a minha carreira foi canalizar o que os cientistas foram pacientes e gentis em explicar de novo e de novo, até que eu pudesse entender e explicar em linguagem simples. Pelo fato de terem estado absolutamente certos no que previram décadas atrás, não deveríamos prestar mais atenção no que estão alertando agora? Eles sabem do que estão falando".
A urgência da mitigação e o papel do Brasil
Gore ressaltou que cada fração de aquecimento global evitada é crucial e advertiu sobre os riscos dos chamados “pontos de não retorno”, que podem gerar consequências irreversíveis. “Algumas pessoas dizem que precisamos nos adaptar, mas a adaptação significa sacrificar milhões de vidas, se for feita sozinha. Nossas ações precisam envolver a mitigação e a adaptação, porque este não é um planeta de sacrifício”, afirmou.
Segundo ele, o Acordo de Paris foi fundamental para conter o aumento da temperatura global, mas ainda insuficiente diante da velocidade da crise climática. “Não precisamos aceitar esse futuro. Se tomarmos ações com as soluções que estão disponíveis, a economia global, em vez de perder US$ 178 trilhões, iria ganhar US$ 43 trilhões”, defendeu.
O ex-vice-presidente também comentou os recentes desastres climáticos no Brasil e destacou a vulnerabilidade do território brasileiro diante das mudanças climáticas. “O Brasil tem estado frequentemente na linha de frente desses impactos horríveis. O ano de 2024 foi o mais quente da história do Brasil. Se você olhar os anos 1960, o país tinha sete dias com ondas de calor por ano. Agora, são 52, um aumento de sete vezes”, disse.
Gore mencionou os efeitos devastadores das enchentes no Rio Grande do Sul, dos deslizamentos em Petrópolis e da seca histórica na Amazônia, além do ciclone que atingiu o Paraná. Ele afirmou ter recebido alertas de temporal durante sua passagem por São Paulo e lamentou o sofrimento causado por esses eventos extremos.


