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      Diplomata brasileiro vê investigação dos EUA como "bomba atômica" na relação comercial com o Brasil

      Diplomata com acesso a Lula afirma que ação do governo Trump é “muito, muito hostil” e compromete gravemente negociações comerciais

      Palácio do Itamaraty (Foto: Fabio Rodrigues Pozzebom/Agência Brasil)
      Guilherme Levorato avatar
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      247 - Em entrevista a Amanda Klein, do UOL, um diplomata de alto escalão do Itamaraty, com acesso direto ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), classificou como “a bomba atômica da área comercial” a abertura de uma investigação pelos Estados Unidos contra o Brasil, com base na seção 301 da legislação americana. A medida, iniciada pelo Escritório de Representação Comercial dos EUA (USTR, na sigla em inglês), marca um novo e delicado capítulo na relação entre os dois países.

      Segundo o diplomata, a iniciativa do governo do presidente Donald Trump representa uma ameaça direta. “É como negociar com revólver na cabeça. A decisão surge num contexto de política de ameaça ao Brasil de modo geral. Dadas as declarações anteriores de Trump sobre Bolsonaro e redes sociais, é uma atitude muito, muito hostil”, avaliou. Ele alerta ainda que o processo é “quase irreversível”, pois, uma vez instaurado, reduz drasticamente as margens para acordos. “Se houver condenação, há medidas que os Estados Unidos são legalmente obrigados a tomar. É um processo muito grave e perigoso".

      Ameaça multifacetada e sem precedentes - Diferentemente de investigações anteriores, que miravam produtos ou políticas específicas, a atual ofensiva norte-americana abrange um amplo leque de temas. O USTR cita questões relacionadas a comércio digital, serviços de pagamento, tarifas preferenciais, medidas anticorrupção, pirataria, propriedade intelectual, etanol e até desmatamento.

      O mesmo diplomata lembra que, em administrações anteriores, como no primeiro mandato de Trump em 2020, a Organização Mundial do Comércio (OMC) atuava como contrapeso. Mas com o enfraquecimento do sistema multilateral, os impactos agora tendem a ser mais severos. “Essa investigação tem objetivo traçado. Antes era um produto ou política específica. Essa abriu um leque enorme”, observou.

      Governo brasileiro mantém estratégia, mas se prepara para retaliações - No Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços, a avaliação é que a abertura da investigação cria mais um ponto de atrito, mas não altera a estratégia brasileira. Um auxiliar direto do vice-presidente e ministro Geraldo Alckmin afirmou que o processo “é mais previsível” e segue um roteiro conhecido: haverá consulta pública até agosto e uma audiência em setembro.

      Ainda assim, as preocupações se acumulam. A ofensiva americana ocorre em paralelo a outro movimento hostil, o tarifaço de 50% sobre produtos brasileiros, que tem motivações mais políticas e menos comerciais. “Eles escolhem pontos inegociáveis”, disse o assessor. Ele também separa as duas frentes: enquanto o tarifaço tem um foco mais imediato, a seção 301 trata de disputas estruturais e pode implicar, por exemplo, em questões ligadas ao uso do PIX e à concorrência com as operadoras de cartão de crédito.

      “Se associarem [a investigação] ao desmatamento, podem impor restrições a papel e celulose e reprimir ou taxar proteína animal”, alertou.

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