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China volta a comprar soja dos EUA antes da reunião entre Trump e Xi

Estatais chinesas adquirem 180 mil toneladas de soja americana às vésperas do encontro entre os líderes, reacendendo esperanças no comércio bilateral

Colheitas de soja e milho em Ohio, EUA (Foto: DANE RHYS / REUTERS)

247 - A estatal chinesa COFCO realizou a compra de três carregamentos de soja dos Estados Unidos, marcando a primeira aquisição do país asiático da safra americana de outono. A informação foi divulgada pela agência Reuters nesta quarta-feira (29).

O volume total negociado — cerca de 180 mil toneladas — está previsto para embarque entre dezembro e janeiro. A compra ocorre pouco antes da cúpula entre o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, e o líder chinês Xi Jinping, em meio às tensões comerciais que têm afetado duramente os produtores rurais americanos.

Reaproximação comercial cautelosa

O negócio marca uma rara movimentação da China em direção ao mercado agrícola norte-americano, após meses priorizando fornecedores da América do Sul, especialmente Brasil e Argentina. Apesar disso, analistas consultados pela Reuters afirmam que não se espera uma retomada robusta da demanda por soja dos EUA no curto prazo.

Um operador de uma empresa internacional que fornece para processadores chineses comentou que “a COFCO decidiu comprar soja dos Estados Unidos mesmo antes de um acordo comercial ser alcançado entre os dois líderes”, acrescentando que “os volumes ainda são modestos — apenas três carregamentos até o momento”.

Impactos no mercado e perspectivas

A notícia impulsionou os preços futuros da soja na Bolsa de Chicago, que atingiram o maior patamar dos últimos 15 meses, após registrarem mínimas de cinco anos. O movimento reacendeu o otimismo de que uma reaproximação entre Washington e Pequim possa aliviar as perdas sofridas pelos agricultores norte-americanos, que apoiaram fortemente Trump em suas campanhas presidenciais.

O período de exportação mais intenso da soja americana costuma ocorrer entre outubro e janeiro, mas a China havia evitado compras da safra recente dos EUA devido às tarifas e disputas comerciais. Em contrapartida, o país asiático praticamente concluiu a aquisição de cargas do Brasil e da Argentina até novembro.

Um segundo operador do setor de oleaginosas explicou que “os fornecedores dos EUA perderam grande parte dos negócios de esmagamento de soja” e estimou que a China precisará de cerca de 5 milhões de toneladas para embarques entre dezembro e janeiro — uma demanda que deve favorecer os produtores brasileiros.

Fatores de preferência e estoques estratégicos

Embora a soja americana tenha sido negociada recentemente com desconto em relação à brasileira, a diferença de preços diminuiu nos últimos dias. Os grãos dos EUA agora estão sendo vendidos a cerca de US$ 2,45 por bushel acima dos contratos futuros em Chicago, equiparando-se aos preços do Brasil.

Segundo Jeffrey Xu, gerente-geral da consultoria OCI, com sede em Xangai, “os compradores privados chineses geralmente preferem a soja brasileira por seu teor mais alto de proteína, o que costuma garantir um prêmio sobre a soja dos Estados Unidos”.

Ainda assim, traders acreditam que Pequim pode adquirir até 8 milhões de toneladas de soja americana entre dezembro e maio para reforçar suas reservas estratégicas, através de estatais como a Sinograin — um volume estimado em cerca de US$ 4 bilhões.

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