Cade abre investigação sobre venda de minas de níquel da Anglo American para empresa controlada por estatal chinesa
Operação pode afetar a concorrência no Brasil e impactar a cadeia de suprimentos de níquel a nível global
247 - O Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) iniciou uma investigação sobre a venda das operações de níquel da Anglo American no Brasil para a MMG Limited, uma empresa australiana controlada pela China Minmetals Corporation.
A decisão foi tomada após denúncia que resultou na instauração de um Procedimento Administrativo para Apuração de Ato de Concentração Econômica (APAC). Segundo a Anglo American, o valor do negócio pode chegar a US$ 500 milhões (aproximadamente R$ 2,7 bilhões).
A venda, que envolve ativos no Brasil, levantou preocupações, especialmente nos Estados Unidos. O Instituto Americano de Ferro e Aço (AISI) manifestou apreensão sobre os riscos de a China dominar o controle de acesso ao níquel, mineral considerado crítico para setores estratégicos como tecnologia, defesa e transição energética.
Em um comunicado, a AISI solicitou que o governo do presidente Donald Trump intervisse junto à administração de Luiz Inácio Lula da Silva para que o processo fosse analisado com maior cautela. A instituição alertou que, caso a venda seja concluída, a China passaria a ter influência direta sobre uma parte significativa das reservas de níquel do Brasil, além de consolidar sua posição dominante na produção indonésia, o que poderia agravar as vulnerabilidades da cadeia de suprimentos de níquel.
O níquel, que é essencial para a fabricação de baterias de veículos elétricos, painéis solares e outros dispositivos tecnológicos, é considerado um mineral estratégico. O AISI também destacou que a negociação pode impactar diretamente o fornecimento de minerais críticos para os fabricantes americanos, especialmente em um momento em que Pequim tem imposto restrições às exportações de terras raras, ímãs e outros minerais essenciais.
A Anglo American, por sua vez, defendeu a venda em uma nota oficial, alegando que a decisão de vender as operações no Brasil para a MMG foi baseada em critérios como o valor da proposta, a qualidade das garantias apresentadas, o histórico da empresa e a capacidade de gestão a longo prazo. “O processo de venda foi competitivo e recebemos propostas de diversas empresas globais. Após uma análise criteriosa, a decisão de vender para a MMG foi baseada na qualidade geral da proposta”, afirmou a empresa.
A mineradora britânica informou que a transação está alinhada com sua estratégia de transformação, que visa concentrar seus esforços em ativos de cobre, minério de ferro premium e fertilizantes. O portfólio de níquel da Anglo no Brasil inclui unidades de produção em Goiás, além de projetos a serem desenvolvidos em outros estados brasileiros. A Anglo destacou que a MMG, com um valor de mercado de cerca de US$ 4,7 bilhões, foi escolhida por sua capacidade de operar as unidades de produção e dar continuidade aos projetos com segurança e responsabilidade. A empresa também afirmou que a venda foi conduzida com as melhores práticas de governança e transparência.