Banco Master pode ser desmembrado em ao menos seis partes se operação for aprovada pelo BC
Negócio em análise envolve BRB, BTG, J&F e ex-sócios do banco; Banco Central avalia riscos e papel do FGC
247 – O Banco Master poderá ser desmembrado em pelo menos seis partes, caso o Banco Central (BC) aprove a venda de 58% da instituição para o Banco de Brasília (BRB). A informação foi publicada pelo jornal Estado de S. Paulo, que obteve detalhes sobre a negociação em andamento. O plano prevê a distribuição de ativos entre diferentes compradores e sócios, com remanescentes ficando sob responsabilidade do banqueiro Daniel Vorcaro, dono do Master, mas com apoio do Fundo Garantidor de Créditos (FGC).
Segundo fontes ouvidas pelo jornal, o desenho inclui a transferência de uma fatia ao banco estatal BRB, ativos ao BTG Pactual e à J&F, além de participações que ficariam com os antigos sócios Augusto Lima e Maurício Quadrado. Já os ativos sem atratividade de mercado permaneceriam sob Vorcaro.
Desdobramentos da operação
O BC ainda não deu o aval final e busca consenso interno antes de formalizar a decisão. Em agosto, a autarquia já havia autorizado a transferência do controle do banco Voiter — ex-Indusval e integrante do conglomerado Master — para Augusto Lima, que passará a operar a instituição sob o nome Banco Pleno.
Maurício Quadrado, por sua vez, assumiu o controle do Letsbank, rebatizado de Bluebank, em aquisição aprovada pelo Cade, mas que ainda aguarda autorização do BC.
A J&F comprou a seguradora Kovr, após a venda de R$ 1 bilhão em ativos do Master, e demonstrou interesse em empresas como a Oncoclínicas. O BTG, por sua vez, já adquiriu R$ 1,5 bilhão em ativos pessoais de Vorcaro e pode assumir precatórios e direitos creditórios do banco.
FGC e riscos ao sistema financeiro
O Fundo Garantidor de Créditos negocia uma linha de liquidez com o Master, podendo ultrapassar R$ 10 bilhões, para assegurar a cobertura de CDBs de até R$ 250 mil por CPF, voltados a clientes pessoas físicas. Uma cláusula em estudo estabelece que o banco não poderá captar recursos com taxas superiores às definidas pelo fundo.
A operação divide os ativos da seguinte forma:
- BRB: R$ 23,9 bilhões (créditos, câmbio, Willbank)
- BTG: precatórios, direitos creditórios e participações em empresas
- J&F: seguradora Kovr e participação na Oncoclínicas
- Maurício Quadrado: Bluebank (ex-Letsbank)
- Augusto Lima: Banco Pleno (ex-Voiter)
- Daniel Vorcaro: ativos remanescentes com suporte do FGC
Incertezas sobre o valor dos ativos
Um dos pontos críticos é a avaliação real dos ativos do Master. Em maio de 2024, o banco comprou 20% da Oncoclínicas por R$ 1,5 bilhão (R$ 13 por ação). Hoje, o papel é negociado a R$ 3 na Bolsa, reduzindo o valor da participação para R$ 350 milhões — uma queda de 77%. Caso o negócio seja fechado pelo preço atual, o banco teria um prejuízo significativo, comprometendo ainda mais o balanço.
Essa discrepância gera preocupações sobre a saúde financeira do Master e reforça a necessidade de aporte do FGC.
Investigação sobre a gestão do Master
Além do processo de desmembramento, o banco é alvo de suspeitas. Deputados do PT solicitaram à Polícia Federal a abertura de inquérito para investigar indícios de crimes de gestão, apontados em relatório da Comissão de Valores Mobiliários (CVM).
Segundo a CVM, o Master aplicou R$ 2,1 bilhões em empresas sem capacidade econômica para garantir retorno, o que poderia “comprometer severamente a solidez patrimonial da instituição financeira”.
Esse conjunto de fatores coloca a operação sob intenso escrutínio do Banco Central, que tenta equilibrar a necessidade de preservar a estabilidade do sistema financeiro com a busca de uma solução para os riscos associados ao Banco Master.