Bancos já preveem juros estratosféricos até o fim do primeiro trimestre de 2026
Morgan Stanley projeta manutenção da Selic em 14,75% mesmo com apostas do mercado em cortes antes disso
247 – O Banco Central do Brasil deve manter a taxa básica de juros (Selic) no patamar elevado de 14,75% ao ano até o fim do primeiro trimestre de 2026, contrariando a expectativa de parte significativa do mercado financeiro. A avaliação é de Ana Madeira, economista-chefe do Morgan Stanley, em entrevista à Reuters, conforme divulgado pelo portal Money Times nesta terça-feira (28) (leia aqui).
Para Madeira, as recentes sinalizações do Banco Central demonstram uma intenção clara de sustentar a Selic em um patamar elevado por mais tempo, apesar da resistência do mercado em aceitar esse cenário. “O ponto em que eles [dirigentes do BC] estão ‘hawk’ é no ‘higher for longer’, mas o mercado não está querendo ler isso. O mercado quer cortes antes do final do ano e, de fato, está muito caro para o BC conseguir vender o ‘higher for longer’”, afirmou.
Segundo a economista, o BC só conseguiria convencer o mercado com um novo aumento de 25 pontos-base na Selic, o que não parece estar nos planos da autarquia. “O BC precisaria dar mais uma alta de 25 pontos-base para o mercado começar a comprar a ideia de que ele vai manter a Selic alta por período prolongado mesmo, mas não acho que eles têm intenção de dar novo aumento”, disse.
Atualmente, a curva de juros aponta para a manutenção da Selic em 14,75% nas próximas reuniões e uma divisão nas apostas entre corte ou estabilidade em dezembro. Já para o início de 2026, a maioria dos analistas projeta um corte de 25 pontos-base na primeira reunião de política monetária do ano, previsão alinhada ao último Relatório Focus do Banco Central.
Essa leitura é influenciada por declarações recentes de dirigentes do BC, especialmente do presidente da instituição, Gabriel Galípolo. Na última sexta-feira (23), ele defendeu prudência na condução da política monetária: “O que a cautela quer dizer é que, dado o estágio que nós estamos na política monetária e dada a incerteza, o Banco Central não deveria fazer movimentos bruscos”.
A projeção do Morgan Stanley para o início do ciclo de cortes está fundamentada no cenário de crescimento econômico. A instituição prevê uma alta de 2,3% no PIB brasileiro em 2025 — alinhada com o consenso de mercado — e enxerga até espaço para um resultado superior, sustentado por um mercado de trabalho ainda aquecido. “Os dados do mercado de trabalho estão fortes, o desemprego está baixo. Então, quanto este consumo privado consegue desacelerar?”, questionou Madeira.
Mesmo com o desempenho da atividade, o Morgan Stanley vê a inflação como um fator impeditivo para a queda dos juros. O banco projeta alta de preços de 5,6% em 2025 e de 4,4% em 2026, ambas acima do centro da meta de 3% perseguida pelo BC. Como a margem de tolerância da meta é de 1,5 ponto percentual, a estimativa para 2025 já supera o teto e, em 2026, se aproxima perigosamente do limite.
Nesse contexto, os juros “estratosféricos” devem permanecer como ferramenta de contenção inflacionária por um período mais prolongado do que o desejado por investidores e consumidores.
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