Levantamento aponta crescimento de lucros de empresas brasileiras no 2º trimestre, mas desaceleração preocupa
Companhias ampliam ganhos entre abril e junho, mas analistas projetam perda de fôlego e risco com tarifas de Donald Trump
247 - Levantamento do Valor Econômico mostra que o lucro líquido de 386 companhias não financeiras, excluídas Petrobras e Vale, mais do que dobrou no segundo trimestre de 2025 em relação ao mesmo período do ano anterior. As receitas subiram 9,6%, chegando a R$ 1,02 trilhão entre abril e junho. O bom desempenho foi puxado por setores ligados ao mercado doméstico e por ganhos contábeis com a queda do dólar.
Apesar do avanço expressivo, o estudo indica sinais de perda de fôlego: o crescimento da receita foi menor que no primeiro trimestre (13,9%), houve segundo recuo consecutivo da margem bruta e terceira queda da margem operacional. Analistas apontam como fatores de risco os juros elevados e as incertezas externas, agravadas pelas tarifas impostas pelo atual presidente dos Estados Unidos, Donald Trump. A isenção de centenas de produtos, incluindo aviões da Embraer, reduziu o impacto imediato da tarifa de 50%, mas não elimina a ameaça de novas medidas.
Setores em destaque
O varejo de vestuário foi o grande destaque do período, com forte crescimento de vendas em empresas como Lojas Renner, C&A e Guararapes (Riachuelo). O desempenho foi favorecido por um inverno mais rigoroso e pela base fraca de 2024, marcada pelas enchentes no Rio Grande do Sul.
Segundo Fernando Siqueira, da Eleven Research, “a economia ainda está forte, desemprego em níveis baixos, renda e salários aumentando, o que tem ajudado bastante o consumo discricionário”.
Saúde, construção civil de baixa renda, educação, transporte e alimentos e bebidas também superaram as expectativas. Já setores exportadores, como mineração, petróleo e siderurgia, tiveram desempenho fraco devido à valorização do real e à queda dos preços internacionais.
“As exportadoras de commodities mostraram recuperação parcial, especialmente em mineração e papel e celulose, com melhora de volumes e redução de custos compensando preços mais baixos”, avalia Victor Penna, do BB Investimentos.
Análises divergentes
Para Fernando Ferreira, estrategista-chefe da XP, “foi uma temporada de resultados muito boa, vimos resultados robustos, um percentual alto de companhias batendo as expectativas”. Ainda assim, ele adverte que a desaceleração deve se materializar no segundo semestre.
Já Ricardo Peretti, estrategista do Santander, classifica os resultados como “mistos”: “O copo meio vazio é que as empresas de commodities não foram tão bem, as receita ficaram estáveis e Ebitda teve uma retração na comparação anual”.
Perspectivas para o próximo trimestre
Para o terceiro trimestre, os analistas projetam desempenho mais fraco. Setores dependentes de crédito devem sentir mais os juros altos, enquanto atividades ligadas à renda e emprego devem manter resiliência. “Setores discricionários estão desacelerando bem mais do que os básicos ligados à renda e emprego”, observa Ferreira.
No setor de commodities, há expectativa de melhora sazonal em mineração e papel e celulose, além de estabilidade da Petrobras mesmo com preços de petróleo pressionados. A siderurgia, porém, deve seguir pressionada pelas importações recordes de aço.
Empresas mais expostas ao mercado norte-americano, como a Taurus, enfrentam maior risco. A fabricante de armas informou estar “engajada em tratativas diplomáticas em busca de uma solução negociada” para mitigar os efeitos das tarifas de Trump.
O consenso entre os analistas é que a economia brasileira deve desacelerar nos próximos meses. A principal incerteza, agora, é a intensidade dessa perda de ritmo.