Sambista perfeito: Arlindo Cruz é celebrado com festa e emoção no Império Serrano

247 – A despedida de Arlindo Cruz, um dos maiores ícones do samba brasileiro, transformou a quadra do Império Serrano em palco de emoção e celebração na noite deste sábado (9). A informação é da Agência Brasil. Centenas de familiares, amigos e fãs se reuniram para prestar homenagens ao cantor e compositor, que marcou a história do gênero com sua poesia e voz inconfundível. O velório seguiu até a madrugada, com música, dança e lembranças, no melhor estilo do tradicional gurufim, ritual de origem africana que celebra a vida com alegria, comida e bebida.

Os portões do Império Serrano foram abertos às 18h, e a cerimônia teve início com toques de atabaques para os orixás, conduzida pelo terreiro Ilê Osè Yobá, frequentado por Arlindo, filho de Xangô. Logo depois, uma roda de samba embalada por seus maiores sucessos tomou conta do espaço, acompanhada da distribuição de chope.

Emoção e legado

Entre as homenagens, o filho do artista, Arlindinho, emocionou o público ao cantar “O show tem que continuar”, clássico do Grupo Fundo de Quintal composto por Arlindo, Sombrinha e Luiz Carlos da Vila. “O ensinamento que ele me deu é de luta, perseverança e de ser um sambista vencedor. É isso que eu vou fazer: seguir lutando e honrando o nome dele”, afirmou.

O coreógrafo e passista Carlinhos de Jesus, que enfrenta problemas de saúde e compareceu em cadeira de rodas, destacou a grandeza do amigo: “Perdi um amigo e um irmão. Vai a matéria, mas a obra dele, a história dele, a lembrança dele vai ficar conosco. Ligou o rádio, vai ter uma música dele. Hoje ele se torna o maior poeta do samba. Uma personalidade incrível que retratou a história de cada um de nós”.

O cantor e compositor Marquinhos de Oswaldo Cruz lembrou a capacidade única de Arlindo de conquistar diferentes públicos: “Arlindo é um gênio e conseguiu fazer esse samba tradicional e que a massa inteira que curtia um outro tipo de música pudesse curtir o Arlindo. O coração mais generoso da música brasileira era o Arlindo”.

Memórias de uma amizade

A vice-presidente do Império Serrano, Paula Maria, recordou momentos pessoais ao lado do sambista: “Eu sou muito grata a Deus por ter tido a oportunidade de conviver e ver o gênio. Ele gravou no terreno da minha casa a canção Estrela de Madureira. Me falou que aquela música seria a virada de chave para ser reconhecido como cantor, e foi o que aconteceu”.

Já o imperiano Wagner Francisco, de 64 anos, ressaltou a importância de Arlindo para a história da escola: “Eu pensei que quando perdemos Roberto Ribeiro, não teríamos ninguém para substituí-lo. Mas aí apareceu o Arlindo Cruz, que com sua genialidade ganhou mais de dez sambas-enredo pelo Império Serrano. Ele estará sempre presente em nossa memória, assim como Roberto Ribeiro e Dona Yvone Lara”.

Última despedida

As homenagens na quadra se encerram às 10h deste domingo (10), com uma cerimônia íntima para familiares e amigos. Em seguida, o corpo seguirá para o Cemitério Jardim da Saudade, em Sulacap, onde será sepultado às 11h.

Neste sábado, às 23h, a TV Brasil reexibiu o programa Samba na Gamboa, apresentado por Teresa Cristina e com participação de Arlindinho, em homenagem ao pai. Na sexta-feira, o programa Sem Censura, comandado por Cissa Guimarães, exibiu uma edição especial já gravada, com participação de Babi Cruz, esposa do músico, e do escritor Marcos Salles, autor da biografia O Sambista Perfeito.