Países devem anunciar primeiros investimentos em fundo para preservação de florestas
Há expectativa por anúncios da Noruega e Alemanha
Reuters - Uma reunião de chefes de Estado da COP30 nesta quinta-feira deve selar o caminho do Fundo Florestas Tropicais para Sempre (TFFF, na sigla em inglês), quando os países devem revelar se farão ou não investimentos no mecanismo desenvolvido pelo Brasil para financiar a manutenção das florestas tropicais pelo mundo.
De acordo com uma fonte que acompanha as negociações, alguns países podem anunciar recursos para o fundo durante o encontro, entre eles a Noruega, um dos apoiadores de primeira hora do TFFF.
Já a Alemanha deve anunciar seu investimento apenas na sexta-feira, quando seu chanceler, Friedrich Merz, falará na plenária de líderes da COP. Durante o almoço desta quinta, o país estará representado pela diretora de Clima, Energia e Meio Ambiente do Ministério de Desenvolvimento e Cooperação Internacional, Heike Henn.
Até agora, apenas Brasil e Indonésia -- dois países em desenvolvimento e com florestas tropicais -- anunciaram recursos para o TFFF, com US$1 bilhão cada. Espera-se contribuições também da China e dos Emirados Árabes Unidos.
Na lista de oradores da reunião-almoço desta quinta, 13 países devem fazer apresentações, entre países que devem contribuir para o fundo e outros que ficarão na outra ponta, como receptores de recursos, como o Suriname. O Brasil participa de ambos os lados.
"Rivalidades estratégicas e conflitos armados desviam a atenção e drenam os recursos que deveriam ser canalizados para o enfrentamento do aquecimento global. Enquanto isso, a janela de oportunidade que temos para agir está se fechando rapidamente", disse o presidente Luiz Inácio Lula da Silva em sua fala no encontro.
A meta do fundo é arrecadar US$25 bilhões de investimentos públicos para alavancar a entrada de investidores privados, levando o TFFF a US$125 bilhões. O governo brasileiro calcula, no entanto, que o fundo pode começar com US$10 bilhões de investimentos de países.
Nos últimos meses, Lula tem investido seu capital político para angariar apoio ao fundo, levando a questão para praticamente todas as suas conversas internacionais. Apesar de manifestações de apoio, algumas decepções já foram contabilizadas.
Na quarta-feira, o Reino Unido informou o governo brasileiro de que, ao menos por enquanto, não anunciaria um investimento. Na sexta-feira, Lula havia enviado uma carta direta ao primeiro-ministro britânico, Keir Starmer, reforçando o pedido por investimentos, mas sem sucesso.
De acordo com fontes que acompanham as negociações, o desapontamento é maior especialmente porque o Reino Unido foi um dos países que trabalhou com o Brasil na formatação do fundo, e Starmer chegou a dizer que pretendia investir.
Uma porta-voz do Departamento de Energia do Reino Unido afirmou que seu governo "apoia fortemente" o fundo e "esse apoio continuará, inclusive por meio de esforços para atrair investimentos privados", mas sem promessas de recursos.
A estrutura do TFFF conta com recursos de fundos soberanos dos países para ancorar os investimentos e então captar recursos privados. O investimento desses recursos geraria rendimento suficiente para remunerar os investidores e também pagar a países para que mantenham em pé suas florestas tropicais.
O mecanismo vem sendo elogiado por investidores e, principalmente, por especialistas do setor ambiental, que veem no TFFF uma nova modalidade de investimento para combater as mudanças climáticas que foge do modelo de doações, que sofre com falta de vontade dos países mais desenvolvidos em aumentar seus desembolsos.
"Estamos querendo sair da era das doações. A doação é muito importante, mas sempre fica muito aquém do que se precisa. Se não nos deram US$100 bilhões antes, não vão dar agora US$1,3 trilhão", disse Lula em entrevista a agências de notícias internacionais na segunda-feira.
O modelo de financiamento do combate às mudanças climáticas parte do princípio que os países mais desenvolvidos devem pagar para mitigar os efeitos e para que países mais pobres se adaptem à nova realidade, já que foram os principais responsáveis pela poluição que está levando ao aquecimento global.
A conta para adaptação e mitigação é de que seriam necessários US$1,3 trilhão ao ano, mas, no ano passado, durante a COP29, em Baku, as promessas de recursos ficaram em US$300 bilhões.
Em artigo para o jornal O Globo publicado nesta quinta-feira, Lula cobrou investimentos ambiciosos de outros países. "Liderando pelo exemplo, o Brasil anunciou investimento de US$1 bilhão no TFFF e esperamos anúncios igualmente ambiciosos de outros países", escreveu.


