"Não podemos abandonar o objetivo do Acordo de Paris", afirma Lula na COP
"É o momento de levar a sério os alertas da ciência, de encarar a realidade", disse o presidente na abertura da Cúpula do Clima em Belém
247 - Durante a cerimônia de abertura da Plenária Geral da COP30, nesta quinta-feira (6), em Belém (PA), o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) fez um apelo enfático à comunidade internacional para que mantenha vivo o compromisso firmado no Acordo de Paris. Diante de líderes mundiais e representantes de quase 200 países, Lula alertou para o agravamento da crise climática e afirmou que "não podemos abandonar o objetivo do Acordo de Paris".
Segundo o discurso oficial, divulgado pelo Palácio do Planalto, o presidente destacou o simbolismo do retorno da Convenção do Clima ao Brasil, mais de três décadas após a Cúpula da Terra no Rio de Janeiro. "Os olhos do mundo se voltam a Belém com imensa expectativa. Pela primeira vez, uma COP terá lugar no coração da Amazônia", disse Lula, ressaltando a relevância do bioma que abriga "milhares de espécies de plantas e animais" e milhões de pessoas que vivem "o falso dilema entre prosperidade e preservação".
Lula enfatizou que os povos da região amazônica têm sido guardiões de um dos maiores patrimônios naturais da humanidade. "É justo que seja a vez dos amazônidas de indagar o que está sendo feito pelo resto do mundo para evitar o colapso da sua casa", afirmou.
Ao abordar o cenário global, o presidente ressaltou que o ano de 2025 representa um marco para o multilateralismo, já que se completará uma década desde a assinatura do Acordo de Paris. Segundo ele, o tratado "se tornou o espelho das maiores qualidades e limitações da ação multilateral". Lula destacou que, graças ao pacto climático, o mundo conseguiu se afastar das projeções mais alarmantes, que indicavam um aumento de até 5 °C na temperatura média do planeta até o final do século.
Entretanto, o presidente alertou que "o regime climático não está imune à lógica da soma zero que tem prevalecido na ordem internacional", em referência à disputa de interesses nacionais imediatos. "Em um cenário de insegurança e desconfiança mútua, interesses egoístas preponderam sobre o bem comum a longo prazo", criticou.
Lula citou ainda dados alarmantes sobre o aquecimento global. "O ano de 2024 foi o primeiro em que a temperatura média da Terra ultrapassou 1,5 grau acima dos níveis pré-industriais. A ciência já indica que essa elevação vai se estender por algum tempo, até décadas, mas não podemos abandonar o objetivo do Acordo de Paris", reforçou.
De acordo com o presidente, o Relatório de Emissões do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA) aponta que o planeta caminha para ser 2,5 °C mais quente até o fim do século. Ele alertou que, segundo o chamado "Caminho Baku-Belém", as consequências humanas e econômicas seriam devastadoras: "Mais de 250 mil pessoas poderão morrer a cada ano. O PIB global pode encolher até 30%".
Ao definir a COP30 como "a COP da verdade", Lula afirmou que o encontro deve marcar um ponto de virada na resposta internacional à crise climática. "É o momento de levar a sério os alertas da ciência. É hora de encarar a realidade e decidir se teremos ou não a coragem e a determinação necessárias", declarou.
Por fim, o presidente destacou que a trajetória do Brasil até a conferência foi construída a partir de sua atuação nas presidências do G20 e dos BRICS. "No G20, colocamos na mesma mesa os ministérios do Meio Ambiente e de Finanças das 20 economias que respondem por 80% das emissões globais. Nos BRICS, reafirmamos a centralidade do financiamento climático, da capacitação e da transferência de tecnologia", concluiu.
A COP30, sediada em Belém, representa a primeira vez que uma conferência climática da ONU ocorre na Amazônia. O evento consolida o protagonismo do Brasil nas negociações ambientais e reforça a urgência de uma ação global coordenada para enfrentar o aquecimento do planeta.


