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Brasil apresentará na COP30 o Plano de Belém, que propõe mutirão global pela saúde

Iniciativa do Ministério da Saúde coloca a crise climática no centro das políticas públicas e busca apoio internacional para ação conjunta

Enchente no Rio (Foto: Tomaz Silva/Agência Brasil)

247 - O Brasil vai apresentar na COP30, que será realizada em Belém, um plano inédito de cooperação internacional voltado à saúde e às mudanças climáticas. O Plano de Ação em Saúde de Belém, elaborado pelo Ministério da Saúde em parceria com organizações nacionais e internacionais, propõe uma resposta coletiva à crise climática, integrando ciência, governança e participação social.

A proposta foi construída de forma colaborativa, com base em evidências científicas e ampla participação de entidades acadêmicas, movimentos sociais e instituições públicas. O documento, denominado Carta de Belém, será apresentado oficialmente durante o “Dia da Saúde”, em 13 de novembro de 2025, na conferência que ocorrerá na Amazônia.

Plano de Belém: metas, princípios e ações estratégicas

A secretária de Vigilância em Saúde e Ambiente, Mariângela Simão, apresentou o conteúdo do plano, que organiza 15 resultados e cerca de 60 ações em três eixos principais: vigilância e monitoramento informados pelo clima; fortalecimento de capacidades e políticas baseadas em evidências; e inovação em saúde digital.

“O Plano de Belém traduz o compromisso do Brasil com uma agenda de saúde climática justa, equitativa e baseada em evidências”, afirmou. “Tudo isso sustentado por dois princípios transversais — equidade e justiça climática, e governança com participação social.”

O plano também prevê sistemas de alerta precoce, segurança hídrica e alimentar, proteção à saúde de trabalhadores em contextos extremos e adaptação a doenças sensíveis ao clima, como dengue e malária.

A urgência climática e o papel do Brasil

Os dados apresentados por Daniel Buss, da Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS), reforçam a gravidade do cenário. “Em 2023, as Américas registraram mais de 13,5 milhões de casos de dengue — quatro vezes mais do que o ano anterior. É o maior número já registrado”, alertou. Ele destacou ainda o aumento da mortalidade associada ao calor e a vulnerabilidade de crianças e idosos.

Segundo Buss, o Plano de Belém é “um farol que aponta o caminho para integrar vigilância, governança e justiça climática”. O especialista também ressaltou o papel da Aliança Transformadora de Ação em Clima e Saúde (ATA-Health), que reúne mais de 100 países e será uma das principais plataformas de cooperação na COP30.

Tecnologia e inovação: o lançamento da plataforma Cidacs Clima

O pesquisador Maurício Barreto, da Fiocruz Bahia, anunciou a criação do Cidacs Clima, plataforma que integra grandes bases de dados epidemiológicos, ambientais e sociais. O objetivo é mapear vulnerabilidades regionais e ajudar gestores municipais a se anteciparem a eventos extremos.

“O Cidacs Clima oferece diagnósticos locais sobre riscos e vulnerabilidades, orientando políticas preventivas e economizando recursos. É informação transformada em ação”, explicou Barreto.

Formação, cooperação e conhecimento compartilhado

Para a pesquisadora Danielly Magalhães, da Fiocruz e da Columbia University, a resposta à crise climática exige investimento em formação e inovação. “Precisamos preparar profissionais da saúde, gestores e pesquisadores para lidar com dados climáticos, tecnologias digitais e comunicação de risco”, afirmou.

Ela defendeu o fortalecimento de redes internacionais de aprendizagem e a valorização da transdisciplinaridade. “A integração entre ciência, serviços e comunidades é essencial para que as respostas sejam sustentáveis e situadas no território.”

O pesquisador Rômulo Paes, da Fiocruz Minas e da Abrasco, enfatizou que o enfrentamento da crise climática “não é apenas técnico, é político”. Segundo ele, o Plano de Belém deve ser incorporado aos instrumentos de planejamento do SUS e garantir participação ativa de povos indígenas e comunidades tradicionais.

“Sem participação social, sem controle social, não há sustentabilidade nem equidade”, afirmou Paes, destacando a necessidade de uma governança inclusiva e democrática.

Saberes indígenas e a medicina tradicional

Encerrando o seminário, o professor e ativista indígena André Fernando Baniwa defendeu a valorização dos conhecimentos tradicionais na agenda climática. “Não existe mais a opção de não tratar o tema das mudanças climáticas. É imperativo que o conhecimento tradicional faça parte da solução”, declarou.

Baniwa destacou o trabalho da Secretaria de Saúde Indígena (SESAI), que desenvolve o Programa Nacional das Medicinas Indígenas. “As medicinas indígenas não são práticas do passado. São saberes vivos, construídos empiricamente ao longo de gerações. A tradução cultural é o que permite compreender que a sabedoria tradicional é também ciência.”

Mais de 400 representantes indígenas participarão da zona azul da COP30, levando propostas para que as terras indígenas sejam reconhecidas como fundamentais na luta contra a crise climática.

Um mutirão global pela saúde e pelo clima

O encontro “Saúde na COP30” reafirmou a convergência entre ciência, política e saberes tradicionais. Como sintetizou Guto Galvão, integrante da Estratégia Fiocruz para a Agenda 2030: “Temos um plano sólido, redes de pesquisa engajadas e uma sociedade civil ativa. Cabe a nós transformar esse momento em um mutirão global por saúde, clima e vida.”

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