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Acordo global sobre transição energética ganha força na COP30

Países em desenvolvimento impulsionam proposta que busca garantir justiça social na mudança para energias limpas

Curupira, mascote da COP30, no Parque da Cidade - Belém (PA) - 07/11/2025 (Foto: Ricardo Stuckert/PR)

247 - As negociações da COP30 avançam em Belém com a construção de um mecanismo internacional dedicado à transição energética justa, considerado por representantes brasileiros um dos potenciais resultados centrais da conferência. O tema, que dialoga diretamente com a descarbonização da economia mundial, tem mobilizado países em desenvolvimento e ampliado consensos internos.

Segundo a Folha de S.Paulo, China e outros 77 países que compõem o G77 manifestaram apoio explícito ao instrumento, discutido em reuniões fechadas. A proposta pretende assegurar que a migração global para energias limpas ocorra de forma inclusiva, protegendo populações vulneráveis, comunidades dependentes de setores fósseis e trabalhadores que podem enfrentar impactos diretos da mudança de matriz energética.

A transição justa já integra os princípios do Acordo de Paris, mas o novo mecanismo em debate na COP30 busca estruturar ações concretas para garantir equilíbrio social no processo de descarbonização. A iniciativa prevê direcionamento de recursos financeiros, tecnológicos e de capacitação para regiões que enfrentam maiores desafios, fortalecendo a adaptação econômica e o acesso à energia limpa e acessível.

Apesar do avanço, ainda há divergências sobre como o mecanismo deve funcionar na prática — desde os critérios de elegibilidade até a articulação com fundos climáticos já existentes. Países desenvolvidos pedem clareza sobre governança e indicadores, enquanto nações do Sul Global defendem um formato robusto, acessível e apoiado por novos financiamentos.

Uma das propostas descartadas pelos países é o BAM (Mecanismo de Ação de Belém), sugerido pela Climate Action Network, que previa participação ampliada da sociedade civil. A opção não prosperou diante das negociações entre delegações oficiais.

Ana Toni, CEO da COP30, afirma que a etapa atual é essencial para detalhar a operacionalização do mecanismo. “É um debate mais técnico, não tem um posicionamento de sim ou não. O debate está sendo consistente sobre o que ele significa”, disse à Folha. Segundo ela, o tema está sendo analisado pelos dois órgãos técnicos da conferência: o SBSTA, responsável por avaliações científicas, e o SBI, encarregado de acompanhar a implementação dos compromissos climáticos. “Esperamos que, no final dessa semana, tenha um relatório técnico para aí sim mandar para o nível mais político, que é na semana que vem”, acrescentou.

A China formalizou apoio verbal ao mecanismo na terça (11), defendendo que o princípio da transição justa seja aplicado globalmente, e não apenas em níveis nacional ou regional. Egito, Arábia Saudita e Etiópia — que sediará a COP32 — também reforçaram publicamente a importância do instrumento para ampliar o acesso à energia limpa e garantir equidade na transição.

O avanço das conversas foi celebrado por organizações ambientais. Teresa Anderson, líder global em Justiça Climática da ActionAid Internacional, destacou em nota o impacto potencial da proposta do G77. “Essa proposta do G77 inicia as negociações sérias para evitar que as ações climáticas acidentalmente joguem as pessoas na pobreza”, afirmou. “Agora é hora de agir para uma transição justa. Os países estão finalmente discutindo de forma séria como os trabalhadores, as mulheres e as comunidades podem moldar os planos climáticos para garantir que suas vidas melhorem, em vez de piorar”.

O aprofundamento técnico das propostas deve orientar a próxima fase das negociações, quando ministros de todo o mundo desembarcam em Belém para buscar consenso político e fechar as principais entregas da COP30.

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