Violência policial cresce no Brasil e já responde por 14% das mortes violentas
Anuário mostra que letalidade policial atinge jovens negros e aumenta enquanto homicídios recuam; SP registra alta de 61% sob gestão Tarcísio
247 - Dados do 19º Anuário Brasileiro de Segurança Pública, divulgados nesta quinta-feira (24), revelam que 6.243 pessoas foram mortas por policiais militares e civis no Brasil em 2024. Segundo a Folha de S. Paulo, embora o número represente uma queda de 3% em relação ao ano anterior, ele continua a indicar uma média de 17 mortes por dia — índice que torna o Brasil um dos países mais letais em ações policiais do mundo.
A redução nas mortes causadas por policiais ocorreu em um contexto de queda ainda mais significativa nos homicídios em geral, o que fez com que a participação da violência estatal no total de mortes violentas intencionais aumentasse. Em 2014, essas mortes representavam 5,1% do total; em 2024, saltaram para 14,1%, praticamente o triplo da proporção anterior.
A estatística considera ocorrências com agentes da segurança tanto em serviço quanto de folga, evidenciando não apenas a letalidade das operações oficiais, mas também a conduta cotidiana de policiais armados.
O levantamento também escancara o perfil das vítimas da violência policial: predominantemente homens negros entre 18 e 24 anos. Nesta faixa etária, a taxa de mortes por intervenção policial foi de 9,6 por 100 mil habitantes, enquanto entre os 25 e 29 anos esse número foi de 7,3. Em todas as demais faixas, a taxa ficou abaixo de 5 por 100 mil. O risco de um negro ser morto pela polícia é 3,5 vezes maior do que o de um branco.
Enquanto isso, 170 policiais morreram em 2024 — 46 em serviço e 124 durante a folga. Essa quantidade representa uma redução de 4,5% na vitimização de agentes, mais próxima da queda de 5,4% nas mortes violentas no país de maneira geral.
Dentre os estados, São Paulo registrou um aumento expressivo nas mortes por intervenção policial, com 813 casos — uma alta de 61% em relação a 2023. Esse salto ocorreu no segundo ano da gestão de Tarcísio de Freitas (Republicanos), e grande parte dessas mortes se concentra na Baixada Santista, durante a controversa “Operação Verão”.
A ação, que mobilizou centenas de PMs após a morte de um soldado da Rota, terminou com 56 mortos oficialmente reconhecidos, tornando-se a operação mais letal da história da Polícia Militar paulista desde o Massacre do Carandiru, em 1992.
A diretora-executiva do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, Samira Bueno, alerta para a sobreposição entre as violações cometidas por policiais e sua eventual cooptação pelo crime organizado. “Se o controle do crime organizado é uma prioridade, o controle das forças policiais também precisa ser priorizado. O policial corrupto também é o policial que aperta o gatilho, e o policial que aperta o gatilho também é corrupto”, afirmou Samira à reportagem.
Ela cita o assassinato de Antônio Vinícius Gritzbach, delator do PCC fuzilado no Aeroporto de Guarulhos, como um caso emblemático dessa intersecção. Dezoito policiais militares foram denunciados pelo crime, entre eles três acusados de efetuar os disparos na área de desembarque do terminal.
O aumento da letalidade também alimenta o debate sobre a obrigatoriedade do uso de câmeras corporais por policiais militares. Segundo o Fórum, até dezembro do ano passado, dez estados já tinham implementado programas com os equipamentos, enquanto outros dez estavam em fase de testes.
Contudo, seis unidades da federação (Amazonas, Mato Grosso, Tocantins, Goiás, Distrito Federal e Sergipe) não tinham qualquer previsão de adoção. Santa Catarina se destacou negativamente ao extinguir seu programa pioneiro em setembro de 2024, sob o argumento da gestão Jorginho Mello (PL) de que os equipamentos estariam obsoletos e sem recursos para manutenção.
Ainda que não tenha havido aumento nas mortes por intervenção policial no estado naquele ano, o fim do programa acendeu alertas sobre possíveis retrocessos no controle de abusos policiais.
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