Por dentro da Operação Rejeito: a captura da ANM pela mineração ilegal
Esquema bilionário envolvia empresários, lobistas e servidores públicos para manipular licenças e blindar interesses em Minas Gerais
247 - O que começou com a liberação incomum de uma licença de mineração em pleno Natal de 2019 evoluiu para uma das maiores investigações de corrupção do setor mineral no país. A Operação Rejeito, deflagrada pela Polícia Federal nesta quarta-feira (17), revelou uma rede bilionária formada por empresários, lobistas e servidores que manipulavam licenças, driblavam órgãos de fiscalização e lavavam dinheiro em larga escala. As informações são do portal Brazil Stock Guide.
A Polícia Federal deflagrou, em 17 de setembro, a Operação Rejeito, que revelou um esquema de lavagem de dinheiro estimado em R$ 1,5 bilhão, com projetos em andamento avaliados em mais de R$ 18 bilhões. Documentos da Justiça Federal apontam que Guilherme Santana Lopes Gomes, então chefe de divisão da ANM em Minas Gerais, aprovou um pedido da Mineração Gute Sicht ignorando pareceres técnicos e do Ministério Público, abrindo caminho para um ciclo de favorecimentos ilegais.
Estrutura organizada e divisão de tarefas
A investigação identificou que o grupo se estruturava de forma empresarial, com núcleos especializados em decisões estratégicas, gestão financeira e articulação política. Alan Cavalcante do Nascimento, Hélder Adriano de Freitas e João Alberto Paixão Lages montaram uma holding criminosa que operava mais de 40 empresas de fachada, entre elas a Fleurs Global Mineração e o Grupo Minerar. Essas companhias movimentaram centenas de milhões de reais e obtiveram licenças inclusive em áreas de preservação.
O esquema alcançava diferentes instâncias do poder público. Ex-secretários municipais e ex-dirigentes de órgãos ambientais e culturais, como o Iphan e o Ibama, foram apontados como beneficiários diretos. Ex-superintendentes, como Débora França, são citados por supostamente lucrar por meio de empresas privadas. O objetivo era sempre o mesmo: manipular pareceres técnicos, liberar concessões em tempo recorde e até cassar licenças de concorrentes.
Branqueamento de capitais e compra de influência
As autoridades identificaram que o grupo criou um sofisticado sistema de lavagem de dinheiro. Valores eram movimentados por empresas como ANHD Participações e KIP Participações, chegando aos líderes em forma de transferências diretas ou entregas em espécie. Só Alan Cavalcante teria recebido mais de R$ 230 milhões entre 2020 e 2023. Operadores conhecidos como “laranjas” atuavam na conversão de depósitos em propina.
Além dos ganhos financeiros, o grupo investia em proteção política e institucional. Reuniões internas eram registradas e grupos de WhatsApp, como o “Minerar Aportes”, coordenavam pagamentos e estratégias. Projetos de lei ambientais foram bloqueados no Legislativo mineiro por meio de lobby, evitando a criação de áreas de conservação que inviabilizariam novas frentes de mineração.
Queda do esquema
Com a Operação Rejeito, a Justiça Federal determinou 22 prisões, 79 mandados de busca e a indisponibilidade de R$ 1,5 bilhão em ativos. A investigação desmontou um ciclo de captura do Estado que minava a credibilidade regulatória do setor mineral brasileiro. O impacto econômico também é expressivo: além do prejuízo público, empreendimentos ligados à rede somavam mais de R$ 18 bilhões em valor de mercado.