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'Passou da hora do campo progressista assumir a pauta da segurança pública', diz Contarato

Eleito presidente da CPI do Crime Organizado, senador diz que “o crime é um fenômeno social, e todos nós temos interesse em reduzi-lo”

Fabiano Contarato (Foto: Andressa Anholete/Agência Senado)

247 - O senador Fabiano Contarato (PT-ES), escolhido para presidir a CPI do Crime Organizado, afirmou que a esquerda precisa assumir o debate sobre segurança pública “sem romantismo” e com foco em resultados concretos. Em entrevista ao O Globo, o parlamentar destacou que a comissão vai investigar o fluxo financeiro de facções e milícias, além da atuação de agentes públicos, em um momento de crescente violência no país.

Delegado de carreira e um dos nomes mais independentes do PT no Senado, Contarato afirmou que sua gestão será técnica e sem espaço para palanques políticos. “Tanto eu quanto o senador Alessandro Vieira, relator da CPI, temos uma postura muito mais técnica. Não estamos ali para atender a A, B ou C. Aquilo ali não é palco para pirotecnia nem para discurso eleitoral”, afirmou.

Segundo ele, a prioridade da CPI será “jogar luz sobre a segurança pública” e identificar quem tem responsabilidade sobre o avanço do crime organizado. O senador defende a apuração da atuação de corregedorias e ouvidorias, além da responsabilização de agentes públicos por desvios de conduta. “Precisamos rever isso”, disse.

Sobre a investigação financeira das facções, Contarato garantiu que o Senado tem estrutura para rastrear o dinheiro do crime. “Temos tecnologia e sistemas de informação que permitem essa rastreabilidade. Não vejo dificuldade nisso”, declarou. 

Contarato defendeu que a integração entre forças de segurança já está prevista na Constituição e que a responsabilidade sobre o tema é compartilhada. “A segurança é dever do Estado, direito e responsabilidade de todos”, afirmou. Ele também ressaltou que o foco da CPI é oferecer respostas concretas à população, sem alterar a autonomia das forças de segurança.

Ao abordar a postura da esquerda diante da pauta, o senador reconheceu que o campo progressista demorou a compreender a gravidade do tema. “Passou da hora de o campo progressista assumir essa pauta, porque ela é apartidária. Não pode ser exclusiva da direita ou de quem tem um perfil mais conservador”, disse.

Contarato também criticou a forma como parte da esquerda encara o debate. “É preciso deixar de ver a segurança pública sob um olhar romantizado. O crime é um fenômeno social, e todos nós temos interesse em reduzi-lo”, pontuou.

Apesar de defender políticas públicas que combatam a desigualdade, o senador considera necessário adotar medidas mais duras contra o tráfico e a impunidade. “Não é razoável pegar uma pessoa condenada a nove anos por homicídio e vê-la cumprir apenas um ano e oito meses. Assim, não se transmite nem a sensação, mas a certeza da impunidade”, argumentou.

Questionado sobre a declaração do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), que afirmou que o traficante é uma "vítima”, Contarato foi direto: “Foi infeliz na colocação. Temos que entender que o traficante é o que há de mais pernicioso dentro da sociedade brasileira. O traficante mata. Por isso, defendo mais rigor, inclusive no aumento das penas para o tráfico de entorpecentes".

O senador reafirmou que sua postura independente dentro do PT será mantida na condução da CPI. “Jamais renuncio às minhas convicções. Aceitei presidir a CPI com autonomia. Tenho uma história na polícia, na docência e na vida pública que me dá tranquilidade. O partido respeita isso, e não haverá interferência”, afirmou.

Por fim, Contarato avaliou positivamente a atuação do ministro da Justiça, Ricardo Lewandowski, destacando seu perfil técnico e sereno. “Ele tem contribuído e corresponde às expectativas. Está no momento certo para promover essa interlocução e avançar em pautas relevantes para o país”, concluiu.

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