Moody’s rebaixa Braskem para Caa3 em meio a crise de caixa
Agência aponta risco elevado de reestruturação financeira da petroquímica
247 - A Braskem sofreu mais um revés em sua já fragilizada avaliação de crédito. A Moody’s Ratings reduziu a nota da companhia de B2 para Caa3 e manteve a perspectiva negativa, colocando a maior petroquímica do Brasil e das Américas sob risco ainda maior de reestruturação.
Segundo a Moody’s, o rebaixamento envolveu a Classificação de Família Corporativa (CFR) da Braskem e os títulos globais sênior não garantidos da Braskem America Finance Company, que têm garantia integral da controladora. A decisão, de acordo com a agência, foi motivada pela contratação de assessores financeiros e jurídicos para avaliar alternativas de reestruturação de capital — um movimento interpretado como indício de risco elevado de “trocas em dificuldades”.
“Em nossa visão, o anúncio aumenta o risco de transações que consideraríamos trocas em dificuldades, à luz do contínuo consumo de caixa da Braskem e das operações fracas”, afirmou a agência.
Nos 12 meses encerrados em junho de 2025, a alavancagem ajustada pela Moody’s — incluindo as operações no México — chegou a 15,3 vezes, com fluxo de caixa livre negativo de R$ 8,8 bilhões. A projeção é de que esse índice permaneça entre 11 vezes e 13,5 vezes nos próximos 12 a 18 meses, a menos que o Ebitda da empresa apresente recuperação, algo que parece improvável diante da pressão dos spreads petroquímicos e das saídas de caixa relacionadas a Alagoas.
No fim de junho, a Braskem dispunha de R$ 10,3 bilhões em caixa e de uma linha de crédito comprometida de US$ 1 bilhão (aproximadamente R$ 5,7 bilhões) com vencimento em dezembro de 2026. Até lá, a companhia tem apenas R$ 1,9 bilhão em dívidas a vencer. Mesmo assim, a Moody’s alertou que a combinação de consumo de caixa persistente, fraqueza das operações no México e desaceleração da economia global manterá o fluxo de caixa livre negativo em 2025, reduzindo a capacidade de absorção de choques.
A agência observou que a posição da Braskem ainda conta com fatores de sustentação: escala relevante, margens historicamente acima da média, diversificação geográfica e relacionamento de longo prazo com clientes. No entanto, a rápida deterioração dos indicadores desde 2022, a dependência de insumos da Petrobras e da Pemex, além das potenciais responsabilidades judiciais em Alagoas e da intenção dos acionistas de se desfazer do negócio, pesam contra a nota.
A Moody’s acrescentou que novos cortes podem ocorrer caso a empresa adote medidas de reestruturação que resultem em perdas mais expressivas para os credores. A perspectiva negativa afasta qualquer possibilidade de melhora no curto prazo. Para uma eventual revisão positiva, seria necessário que a companhia solucionasse o passivo de Alagoas, fortalecesse sua liquidez e reduzisse de forma sustentável sua alavancagem abaixo de 5,5 vezes ao longo dos ciclos de commodities.
O rebaixamento encerra uma semana negativa para a Braskem. A Fitch havia cortado a nota para CCC+ no dia 26, citando pressões de liquidez e risco elevado de reestruturação. Já a S&P Global reduziu a classificação para CCC- no dia 29, alertando para a “probabilidade aumentada de uma reestruturação da dívida nos próximos seis meses”.
Após os cortes da Fitch e da S&P, a Braskem divulgou comunicado à Comissão de Valores Mobiliários (CVM) reafirmando “o compromisso com iniciativas de resiliência e transformação para mitigar os impactos do prolongado ciclo de baixa global da indústria e para o fortalecimento da competitividade da indústria química brasileira”.