Lula: "atitude de Trump foi destemperada e não civilizada"

247 - O presidente Lula (PT) criticou duramente nesta quarta-feira (6) a decisão do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, de elevar para até 50% as tarifas sobre produtos brasileiros. Em entrevista à agência Reuters, Lula classificou a postura do norte-americano como "destemperada" e "não civilizada", além de afirmar que as relações diplomáticas entre Brasil e EUA atravessam o pior momento em dois séculos.

“A forma civilizada de dois chefes de Estado negociarem seria através de uma comunicação prévia, seja por ligações ou negociações. Mas nós recebemos o comunicado da taxação de forma totalmente autoritária”, afirmou Lula, reprovando a ausência de diálogo por parte da Casa Branca.

Apesar da gravidade do embate, o presidente brasileiro descartou retaliações imediatas. “Mesmo nesse momento temos muita gente no Brasil tentando conversar com os americanos”, disse, acrescentando que não vê disposição do republicano para conversar. “O dia que a minha intuição me disser que o Trump está disposto a conversar, eu não terei dúvida de ligar para ele. Mas hoje a minha intuição diz que ele não quer conversar. E eu não vou me humilhar.”

“Essa não é uma intromissão pequena”

A crise se intensificou após Trump vincular publicamente a imposição das tarifas à exigência de que o governo brasileiro abandone o julgamento do ex-presidente Jair Bolsonaro por tentativa de golpe de Estado. Lula reagiu com indignação.

“O STF não se importa com o que Trump diz e nem deveria". Para o líder brasileiro, Bolsonaro deveria ser julgado novamente, por ter provocado uma intervenção estrangeira. "Isso é traição à pátria”, declarou. “Essa não é uma intromissão pequena, é o presidente dos EUA achando que pode ditar regras para um país soberano como o Brasil. É inadmissível.”

Lula recordou ainda o histórico de intervenções dos Estados Unidos no Brasil, incluindo apoio ao golpe militar de 1964. "Essas atitudes antipolíticas, anticivilizatórias, é que colocam problemas numa relação, que antes não existia. Nós já tínhamos perdoado a intromissão dos Estados Unidos no golpe de 1964", lembrou o presidente.