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      Jovens negros são 73% das mortes por causas externas no Brasil, mostra estudo da Fiocruz

      Pesquisa inédita revela desigualdades raciais, de gênero e territoriais na mortalidade juvenil e aponta naturalização da violência contra jovens

      Genocídio do povo negro (Foto: Tomaz Silva/Agência Brasil)
      Laís Gouveia avatar
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      247 - Jovens negros concentram 73% das mortes por causas externas no Brasil, segundo o 1º Informe epidemiológico sobre a situação de saúde da juventude brasileira: violências e acidentes, elaborado pela Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) e divulgado nesta segunda-feira (25). A reportagem original é do g1.

      O levantamento, feito a partir de dados do Sistema Único de Saúde (SUS) e do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) referentes a 2022 e 2023, mostra que a desigualdade racial se intensifica na juventude e que a violência atinge de forma diferente homens e mulheres. A análise também revela a alta vulnerabilidade de jovens com deficiência.

      Juventude negra em maior risco

      De acordo com o estudo, jovens negros (pretos e pardos) correspondem a mais da metade (54,1%) das vítimas notificadas de violência no SUS. A taxa de mortalidade desse grupo chega a 185,5 mortes para cada 100 mil habitantes — número 22% superior ao da população jovem em geral e mais de 90% maior do que a taxa registrada entre jovens brancos e amarelos.

      Entre adolescentes de 15 a 19 anos, as mortes por causas externas entre negros (161,8 por 100 mil habitantes) e indígenas (160,7) praticamente dobram em comparação com brancos (78,3) e amarelos (80,8).

      Para o coordenador da Agenda Jovem Fiocruz, André Sobrinho, os dados expõem a forma como a violência é naturalizada socialmente. “A idade, a raça e o território precisam ser considerados em qualquer estratégia de enfrentamento da violência e isso diz respeito ao Estado como executor de políticas públicas, mas também as diferentes instituições sociais”, afirmou.

      Homens morrem mais, mas mulheres sofrem mais violências

      A mortalidade entre jovens homens é oito vezes maior do que entre mulheres. O grupo mais afetado são os homens de 20 a 24 anos, com 390 óbitos a cada 100 mil habitantes. No entanto, o estudo aponta que as maiores vítimas de violências notificadas pelo SUS são as mulheres, sobretudo as mais jovens, entre 15 e 19 anos.

      Os dados mostram que:

      •  o Distrito Federal e o Espírito Santo têm os índices mais altos de notificações, chegando a cerca de 1 caso para cada 100 habitantes;
      •  o sexismo é a motivação mais frequente da violência contra jovens, aparecendo em 23,7% das notificações, especialmente entre mulheres de 25 a 29 anos;
      •  mulheres são mortas em casa em 34,5% das ocorrências, contra 9,6% dos homens, que morrem principalmente nas ruas (57,6%).

      No caso das mortes violentas, armas de fogo são a principal causa para ambos os sexos. Para as mulheres, aparecem ainda como causas relevantes os homicídios por objetos cortantes, além de mortes por enforcamento, estrangulamento e sufocação dentro de casa.

      Jovens com deficiência entre os mais vulneráveis

      O estudo revela ainda que 20,5% das notificações de violência feitas ao SUS envolvem jovens com deficiência, proporção maior do que a média da população geral (17,6%). Os tipos de deficiência mais atingidos estão ligados à saúde mental, como transtornos mentais, de comportamento e deficiência intelectual.

      Segundo Sobrinho, a situação desses jovens é ainda mais dramática: “É uma faixa etária cujas expectativas sociais depositadas falam de vigor, vitalidade, de ser produtivo. Mas, na realidade, vemos os jovens desafiados em trabalhos precários, conciliando jornadas extenuantes, com impactos na sua saúde física e mental. Os jovens PCDs, a depender do tipo de deficiência, sofrem ainda mais, estando mais vulneráveis às situações de violência”.

      Próximos passos

      Este é o primeiro de uma série de informes epidemiológicos sobre a saúde da juventude que serão publicados ao longo de 2025 pela Agenda Jovem Fiocruz (AJF) e pela Escola Politécnica de Saúde Joaquim Venâncio (EPSJV/Fiocruz). A intenção dos pesquisadores é aprofundar o debate sobre violência, desigualdade e saúde, trazendo subsídios para a formulação de políticas públicas voltadas à juventude brasileira.

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