TV 247 logo
      HOME > Geral

      Jovens negros que ganham até 1,5 salário-mínimo: atlas lançado na Flip faz raio-X da escala 6X1

      Segundo pesquisa apresentada na Flip, o rendimento de 46% dos trabalhadores em escala 6×1 está entre R$ 1.412 e R$ 2.120

      Feira Literária Internacional de Paraty (Flip) (Foto: Divulgação)
      Leonardo Lucena avatar
      Conteúdo postado por:

      247 - Maioria dos trabalhadores e trabalhadoras da escala 6×1 é de jovens negros que ganham até um salário-mínimo e meio e passam mais de uma hora e meia em deslocamento até o trabalho. A pesquisa Atlas da Escala 6X1, apresentada na Feira Literária Internacional de Paraty (Flip) deste ano, mostrou que rendimento médio de 46% dos trabalhadores em escala 6×1 está entre R$ 1.412 e R$ 2.120 e outros 22% recebem até um salário-mínimo.

      Segundo a pesquisa, os baixos salários afetam em especial as mulheres negras. O índice de mulheres negras que recebem salários de até R$ 2.120,00 chega a 80,7%, superior à das pessoas negras em geral (73%), e muito superior à das pessoas brancas em geral (59,47%). Entre os entrevistados, quase 70% não via possibilidade de melhoria salarial na sua ocupação atual.

      O levantamento foi realizado em duas etapas: a primeira com o uso de questionário com 26 perguntas aplicadas a 3.775 trabalhadores em 394 cidades brasileiras entre dezembro de 2024 e abril de 2025. Essa etapa possibilitou fazer um tripé-analítico entre tempo, espaço e cotidiano dos trabalhadores. Na segunda etapa foram extraídos os microdados da rais (relação anual de informações sociais) do Ministério do Trabalho e Emprego, o que possibilitou a produção da cartografia nacional dos mais de 34 milhões de brasileiros que estão subjugados à chamada escala 6X1.

      O Atlas é resultado de uma parceria entre pesquisadores do Observatório, do Sindicato dos Comerciários do Rio de Janeiro e da Associação Trabalho, Rede, Acompanhamento e Memória (Trama). A pesquisa foi realizada em duas etapas: a primeira com o uso de questionário entre dezembro de 2024 e abril de 2025.

      Além de refletir sobre os baixos salários, o Atlas mostra a importância do tempo livre para a qualidade de vida da classe trabalhadora. O impacto negativo do trabalho em escala 6×1 fica evidenciado pelo alto índice de pedidos de atestado – 27% dos trabalhadores apresentaram atestados médicos no último mês e 21% relataram atrasos no trabalho — dados que evidenciam o esgotamento gerado por essa jornada. A pesquisa também mostra que 33% gastam mais de uma hora e meia no deslocamento casa-trabalho, sendo que muitos ultrapassam 30 km por dia apenas na ida.

      Entre as categorias que registraram maior nível de impacto estão os comerciários (caixas de supermercado, balconistas e vendedores de lojas), em que 87% relatou ter a vida pessoal prejudicada pela escala 6×1. Entre as atividades mais prejudicadas estão as de lazer (52,6 %), relacionamentos familiares (43,5%) e repouso (37,9%). Essa insatisfação também se reflete na dificuldade que alguns empregadores estão enfrentando para a contratação, com a necessidade de recorrer até mesmo ao Exército.

      Essa etapa possibilitou fazer um tripé-analítico entre tempo, espaço e cotidiano dos trabalhadores. Na segunda etapa foram extraídos os microdados da rais (relação anual de informações sociais) do Ministério do Trabalho e Emprego, o que possibilitou a produção da cartografia nacional dos mais de 34 milhões de brasileiros que estão subjugados à chamada escala 6X1.

      “Esse Atlas é uma síntese. Síntese parcial, já que é impossível traduzir, em palavras e mapas, o sofrimento da classe trabalhadora da escala 6×1. É oportuno, também, lembrar que o lançamento ocorre em uma festa dedicada à literatura e, agora, aos livros que não foram lidos, em função da ausência de tempo e recursos, pelos trabalhadores da escala 6×1. A festa, assim desejo, anunciará o bom combate pelo fim da escala 6×1”, disse o coordenador do Observatório do Estado Social Brasileiro, Tadeu Arrais.

      Também participante do encontro na Flip, a deputada federal Jandira Feghali (PCdoB) reforçou que acabar com a escala 6X1 é frear a opressão. "Os dados apresentados nesse lançamento escancaram o que a escala 6X1 representa. A luta pela redução da jornada de trabalho faz parte de uma luta maior que é a luta contra a opressão capitalista".

      Presidente do Sindicato dos Comerciários do Rio de Janeiro, Márcio Ayer disse que o Atlas "servirá como mais um instrumento na luta dos trabalhadores contra essa jornada extenuante". Um dos representantes da Associação TRAMA, Rodrigo Ribeiro, destacou que "a parceria entre núcleos de pesquisa acadêmica, movimentos sociais e organizações do terceiro setor são cruciais para produzir dados e visibilidade na luta por justiça social".

      Para Dani Balbi (PCdoB), deputada estadual e presidente da Comissão de Trabalho da Alerj, é fundamental observar a exploração sofrida, sobretudo por mulheres. "Estamos vendo nessa pesquisa que a base mais afetada são as mulheres negras periféricas, a luta contra a escala 6X1 é uma luta de todos nós, ela representa a construção de uma sociedade mais justa e equilibrada".

      ❗ Se você tem algum posicionamento a acrescentar nesta matéria ou alguma correção a fazer, entre em contato com [email protected].

      ✅ Receba as notícias do Brasil 247 e da TV 247 no Telegram do 247 e no canal do 247 no WhatsApp.

      Rumo ao tri: Brasil 247 concorre ao Prêmio iBest 2025 e jornalistas da equipe também disputam categorias

      Assine o 247, apoie por Pix, inscreva-se na TV 247, no canal Cortes 247 e assista:

      Cortes 247

      Relacionados

      Carregando anúncios...
      Carregando anúncios...