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      Negócios antirracistas fortalecem empreendedores negros e transformam comunidades

      Projeto Negócio Raiz apoia iniciativas no Norte e Nordeste, impulsionando mulheres e jovens que aliam propósito social e impacto econômico

      (Foto: Freepik)
      Aquiles Lins avatar
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      247 - Mais da metade dos micro e pequenos empreendedores no Brasil — cerca de 15,2 milhões de pessoas — se declara preta ou parda. No Norte e no Nordeste, essa presença é ainda mais expressiva, chegando a quase 80% e pouco mais de 72%, respectivamente, segundo dados do Sebrae. Apesar dessa relevância, empreendedores negros seguem enfrentando barreiras históricas no acesso a crédito, qualificação e visibilidade. Iniciativas com propósito antirracista têm se consolidado como ferramentas de transformação, fomentando negócios inovadores e inclusivos.

      Um exemplo é o Projeto Negócio Raiz, criado pela Aliança Empreendedora com apoio da Youth Business International (YBI) e financiamento da Standard Chartered Foundation, por meio do programa Futuremakers. Voltada a fortalecer o ecossistema da bioeconomia no Norte e Nordeste, a iniciativa já beneficiou mais de 1.800 microempreendedores, em dois ciclos de atuação. Entre os resultados, destacam-se histórias de mulheres que, ao empreender, unem renda, dignidade e impacto social.

      “A maioria das empreendedoras que passam pelo Projeto Negócio Raiz são mulheres negras que empreendem para garantir renda, sustento e dignidade para suas famílias”, afirma Andressa Trivelli, coordenadora do projeto. “Elas constroem negócios que carregam propósito e responsabilidade social como parte da própria história. Nosso papel é oferecer suporte técnico, emocional e estratégico para que esses empreendimentos se fortaleçam, ganhem visibilidade e ampliem seu impacto.”

      Moda para empoderar e resistir

      A baiana Taís Cardoso, 30 anos, é fundadora da marca Traços Marcantes, que promove autoestima e expressão cultural de crianças negras e indígenas por meio da moda e de ações educativas. “O nosso propósito é a valorização e o empoderamento. As nossas vestes comunicam isso. A nossa primeira coleção foi de camisas falantes — uma delas dizia ‘Não toque em meu cabelo’, trazendo uma problemática que crianças negras e de cabelos black geralmente passam. A nossa marca vem muito nesse intuito de quebrar paradigmas”, explica.

      Participar do Negócio Raiz, diz Taís, foi decisivo para estruturar o empreendimento, que atua em Salvador e Camaçari (BA). “Um dos meus principais aprendizados foi entender o meu negócio de forma mais palpável, pontual, dinâmica e acessível. Era um diálogo preciso, que a gente conseguia compreender e colocava a mão na massa, para construir uma narrativa melhor e um plano de negócio mais estruturado.”

      Ela também chama atenção para as barreiras que empreendedores pretos enfrentam e aponta caminhos para superá-las: “As estratégias mais eficazes são estar dentro de comunidades com pessoas negras, participar de acelerações pensadas para pessoas negras, em que há fomento de capital semente, possibilidade de empréstimos e um network mais palpável”.

      Para Taís, seu trabalho contribui para enfrentar o racismo desde cedo: “O foco principal são crianças negras e indígenas, mas a gente agrega todas as comunidades. Levar o meu negócio para outros locais faz com que pessoas de raças diferentes entendam a importância da quebra do racismo, que não é algo que nasce com a pessoa, mas que é construído ao longo do tempo”.

      Sustentabilidade com justiça social

      Também em Camaçari, Erika Maia, 23 anos, comanda a Ahimsa Produtos da Natureza, negócio de sabonetes e cosméticos artesanais sustentáveis. Mulher branca, ela destaca que seu empreendimento busca respeitar a diversidade e contribuir para uma economia mais justa. “Minha motivação para empreender surgiu do desejo profundo de viver com mais coerência com aquilo que acredito: respeito à Terra, às pessoas e à vida em todas as suas formas”, afirma.

      Ao participar do Negócio Raiz, Erika reforçou o alinhamento entre propósito e prática. “Tive acesso a mentorias que me ajudaram a enxergar meu negócio com mais clareza estratégica e profundidade social. Entendi a importância de transformar meus valores em ações concretas e percebi o quanto é fundamental alinhar o impacto que desejo causar com a forma como conduzo cada detalhe da produção, das parcerias e da comunicação.”

      Ela também ressalta a necessidade de que empreendedores brancos reconheçam as desigualdades raciais: “Essas barreiras não são individuais, são parte de um sistema que precisa ser questionado. Como empreendedora branca, vejo como meu papel apoiar essas redes sem ocupar o espaço delas: seja como consumidora, parceira ou aliada”.

      Empreender e transformar

      O Brasil vive sua maior taxa de empreendedorismo em anos, com 33,4% da população adulta envolvida em algum negócio, segundo a pesquisa Global Entrepreneurship Monitor (GEM) 2024. Jovens entre 18 e 34 anos lideram esse movimento, e muitos deles integram projetos como o Negócio Raiz.

      “Na Aliança Empreendedora, entendemos que o combate ao racismo estrutural passa também pelo fortalecimento de empreendedores que atuam com propósito e impacto social. Apoiar negócios antirracistas é contribuir para uma economia mais justa, onde saberes e identidades são valorizados”, destaca Mariana Nunes, do Comitê de Diversidade da organização.

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