General bolsonarista compara plano de assassinato de Lula, Alckmin e Moraes a "pensamento digitalizado"
Durante depoimento ao STF, Mário Fernandes admite ter redigido documento com proposta de sequestro e execução de autoridades
247 – O general da reserva Mário Fernandes, ex-subchefe da Secretaria-Geral da Presidência no governo de Jair Bolsonaro (PL), admitiu nesta quinta-feira (24) ter sido o autor do chamado “Plano Punhal Verde e Amarelo”, que previa, segundo a Polícia Federal, o sequestro e assassinato do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), do vice-presidente Geraldo Alckmin (PSB) e do ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF).
Durante depoimento à Primeira Turma do STF, Fernandes tentou reduzir a gravidade da acusação ao afirmar que o plano se tratava apenas de uma “análise de riscos” produzida por hábito pessoal, segundo reporta o Valor.
“Esse arquivo digital, que retrata um pensamento meu, que foi digitalizado, é um estudo de situação. Uma análise de riscos que fiz e, por costume próprio, resolvi digitalizar. Esse pensamento digitalizado não foi compartilhado com ninguém”, declarou o militar.
Segundo as investigações, o documento chegou a ser impresso nas dependências do Palácio do Planalto. Fernandes confirmou a impressão, mas alegou que foi apenas para sua leitura pessoal.
O general faz parte do núcleo dois da trama golpista, apontado como responsável por elaborar estratégias para manter Jair Bolsonaro no poder, mesmo após sua derrota nas eleições de 2022.
Outro interrogado na mesma sessão foi o coronel da reserva Marcelo Câmara, ex-assessor de Bolsonaro, que admitiu ter monitorado o itinerário de Alexandre de Moraes, mas tentou justificar a ação como um gesto político:
“Tudo isso era com a finalidade de aproximação. Isso é o que nós queríamos. Havia uma intenção de aproximação do presidente, e não criar nenhum constrangimento.”
Ainda segundo Câmara, as informações eram superficiais e serviam a conversas com o ex-ajudante de ordens de Bolsonaro:
“Essas informações não têm profundidade a nível de um monitoramento. O Mauro Cid me perguntava e eu passava para ele.”
Já o ex-assessor especial de Bolsonaro, Filipe Martins, negou qualquer vínculo com a chamada “minuta do golpe”, que previa uma intervenção no Poder Judiciário.
“Tive notícia disso pela imprensa. Não tive contato nem mesmo pelos autos. Posso afirmar com total segurança que não tive contato com essa minuta antes, e nem durante o processo. Por isso minha defesa tem chamado essa minuta de ‘minuta fantasma’.”
Martins também afirmou que não acompanhou a comitiva presidencial que viajou aos Estados Unidos no dia 30 de dezembro de 2022. Essa versão foi confirmada por Mauro Cid, delator da investigação.
Silvinei Vasques, ex-diretor da Polícia Rodoviária Federal (PRF), disse que as operações nas estradas durante o segundo turno das eleições de 2022 tinham como objetivo evitar crimes eleitorais. Ele é acusado de ordenar blitze que dificultaram o voto de eleitores de Lula em regiões estratégicas.
Marília de Alencar, ex-diretora de Inteligência do Ministério da Justiça e única mulher acusada, reconheceu ter solicitado estudo sobre locais onde Lula e Bolsonaro obtiveram mais de 75% dos votos. Ela alegou, porém, que os dados não foram repassados à PRF e que a motivação era apurar possíveis compras de votos e atuação de facções criminosas.
No contexto dos atentados de 8 de janeiro de 2023, Fernando Oliveira, então secretário-executivo da Secretaria de Segurança Pública do DF, reconheceu falhas da Polícia Militar na contenção dos ataques. Já o delegado da PF que também atuava na pasta é acusado de omissão e de envolvimento nas blitze eleitorais — operações que, segundo ele, foram ampliadas a pedido do então ministro Anderson Torres.
No núcleo quatro, o ex-agente da Abin Marcelo Bormevet negou que tenha recebido ordens para espionar adversários de Bolsonaro. Ele e outros investigados são suspeitos de integrar uma estrutura paralela voltada à coleta de dados e à difusão de desinformação, inclusive por meio de um relatório fraudulento sobre as urnas eletrônicas encomendado pelo PL ao Instituto Voto Legal. Carlos Rocha, presidente da entidade, negou que o relatório tenha incentivado ataques à integridade do processo eleitoral.
Entre os outros militares ouvidos estão Ailton Barros, Ângelo Denicoli, Giancarlo Rodrigues, Guilherme de Almeida e Reginaldo de Abreu, chefe de gabinete de Mário Fernandes. Todos negaram envolvimento na trama.
Os interrogatórios foram conduzidos por videoconferência por juízes auxiliares do STF, e não pelo ministro Alexandre de Moraes. Ao final da audiência, a Corte intimou as defesas a apresentarem diligências complementares em até cinco dias, incluindo pedidos de novas oitivas, acareações ou a juntada de documentos.
Ao avançar nessa fase processual, o STF busca esclarecer a participação de diversos agentes na tentativa de subverter a ordem democrática. Enquanto isso, o núcleo central da trama, do qual o ex-presidente Jair Bolsonaro faz parte, segue sendo investigado separadamente.
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