“Continuamos a ver espaço de exploração no Brasil”, afirma CEO da Shell
Wael Sawan destaca força do pré-sal e dos biocombustíveis e reforça a importância de estabilidade fiscal e regulatória
247 - A Shell, segunda maior produtora de petróleo do Brasil atrás apenas da Petrobras, reafirmou sua disposição em expandir os investimentos no pré-sal brasileiro. Em entrevista exclusiva ao Valor Econômico, o presidente global da companhia, Wael Sawan, destacou que a multinacional ainda vê espaço para novas explorações, embora com maior seletividade nos próximos projetos.
Segundo Sawan, que assumiu o comando da empresa em janeiro de 2023, sua visita ao Brasil nesta semana incluiu encontro com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, em Brasília. “Reafirmei ao presidente Lula a importância do Brasil nas operações da Shell”, afirmou o executivo. Ele destacou que estabilidade fiscal e regulatória serão determinantes para manter a confiança dos investidores no setor de energia.
Investimentos e novos projetos no pré-sal
Nos últimos dez anos, a Shell desembolsou entre US$ 1 bilhão e US$ 1,5 bilhão por ano no país. O principal foco da companhia atualmente é o campo de Gato do Mato, no pré-sal da Bacia de Santos, onde está prevista para 2029 a entrada em operação de uma plataforma com capacidade de 120 mil barris diários.
Sawan explicou que a iniciativa é estratégica por integrar a expertise global da Shell em águas profundas, setor no qual a empresa atua em regiões como Golfo do México, Nigéria e Malásia. “Estamos trazendo aprendizados para o Brasil. Isso criará empregos no país e vai gerar receita tributária para o governo”, afirmou.
A empresa também se prepara para disputar novos blocos no leilão da Agência Nacional do Petróleo (ANP) marcado para outubro. “O pré-sal é um dos recursos mais prolíficos do mundo. Continuamos a ver espaço de exploração no Brasil”, declarou o executivo.
Biocombustíveis e o papel da Raízen
Além do petróleo e gás, a Shell aposta no crescimento do mercado de biocombustíveis, por meio da joint venture Raízen, controlada em parceria com a Cosan. Embora não tenha comentado diretamente sobre a busca da Raízen por um novo sócio, Sawan reiterou a confiança na empresa:
“Não conheço nenhum país com mais potencial para biocombustíveis do que o Brasil. O que é atraente na Raízen é a tecnologia de segunda geração de etanol e a possibilidade futura de produzir combustível sustentável de aviação.”
Combate à ilegalidade no setor de combustíveis
Questionado sobre a operação da Polícia Federal que mirou fraudes e lavagem de dinheiro na distribuição de combustíveis, o presidente da Shell no Brasil, Cristiano Pinto da Costa, destacou que o problema da evasão fiscal é antigo.
“O Instituto Brasileiro do Petróleo estima que a evasão fiscal associada à distribuição ilegal de combustíveis pode ter magnitude de R$ 30 bilhões a R$ 40 bilhões por ano”, disse Costa.
O executivo considerou a ação positiva: “Esperamos que seja em benefício do país, permitindo ao governo aumentar a arrecadação sem elevar impostos em outras áreas”.
Incertezas globais e papel do Brasil
O CEO da Shell reconheceu que as guerras e as políticas tarifárias do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, criaram um ambiente de maior incerteza no setor energético. Para ele, empresas como a Shell precisam focar na eficiência e em decisões estratégicas de alocação de capital.
“Todo movimento que reduz a confiança para investir cria impactos a longo prazo. O Brasil pode atrair grandes investimentos se demonstrar estabilidade regulatória e fiscal”, avaliou Sawan.
Transição energética e metas de baixo carbono
Apesar de manter a aposta no petróleo e gás, a Shell pretende ampliar os investimentos em energias de baixo carbono. A companhia já direcionou US$ 20 bilhões ao setor, mas busca elevar os retornos para 10% ao ano até 2030.
O foco da empresa está em biocombustíveis, biogás e hidrogênio verde, além de projetos de captura e armazenamento de carbono. No Brasil, a Shell mantém parceria com a Carbonext para soluções de créditos de carbono.
“Queremos reduzir nossas emissões em 50% entre 2016 e 2030”, afirmou Sawan, ressaltando que o país tem condições de liderar a transição energética.