Certidão de óbito de Zuzu Angel é retificada após quase 50 anos
Documento oficial reconhece que a estilista mineira foi vítima da violência do Estado durante a ditadura militar
247 - A Comissão Especial sobre Mortos e Desaparecidos Políticos, ligada ao Ministério dos Direitos Humanos e da Cidadania, entregou nesta quinta-feira (28) 21 certidões de óbito retificadas de vítimas da ditadura militar (1964-1985). Entre elas está a da estilista mineira Zuzu Angel, ícone da moda que ganhou projeção internacional ao vestir celebridades de Hollywood e que desafiou o regime após o assassinato de seu filho, Stuart Angel, morto sob tortura.
A retificação das certidões atende à Resolução nº 601, de 2024, do Conselho Nacional de Justiça (CNJ), que determina que os registros passem a indicar as mortes como não naturais, violentas e atribuídas ao Estado brasileiro no contexto da perseguição política promovida pelo regime. Além disso, os novos documentos trazem informações complementares, como idade, estado civil, data e local da morte das vítimas, informa a Folha de S. Paulo.
O caso de zuzu angel
Zuzu Angel morreu em 1976 em um suposto acidente de carro na saída do então túnel Dois Irmãos, no Rio de Janeiro, hoje rebatizado com o nome da estilista. Anos mais tarde, investigações e testemunhos indicaram que seu carro foi jogado para fora da pista por agentes da ditadura. Em 1988, a própria Comissão de Mortos e Desaparecidos já havia reconhecido a responsabilidade do regime militar pela morte da estilista.
A estilista tornou-se símbolo da luta contra a violência política no Brasil ao denunciar o assassinato de Stuart Angel, militante do grupo MR-8, morto em 1971. Zuzu usou sua influência e prestígio internacional para denunciar os crimes da ditadura, o que aumentou a perseguição contra ela.
Entrega coletiva em minas gerais
Na cerimônia em Belo Horizonte, realizada na Assembleia Legislativa de Minas Gerais, familiares de outras vítimas também receberam certidões retificadas. Entre os homenageados estavam Adriano Fonseca Filho, Antônio Carlos Bicalho Lana, Antônio Joaquim de Souza Machado, Arnaldo Cardoso Rocha, Carlos Alberto Soares de Freitas, Ciro Flávio Salazar de Oliveira, Gildo Macedo Lacerda, Eduardo Antônio da Fonseca, Pedro Alexandrino Oliveira Filho, Raimundo Gonçalves de Figueiredo, Walkíria Afonso Costa, Hélcio Pereira Fortes, Idalísio Soares Aranha Filho, Ivan Mota Dias, João Batista Franco Drumond, José Carlos Novaes da Mata Machado, José Júlio de Araújo, Oswaldo Orlando da Costa, Paulo Costa Ribeiro Bastos e Paulo Roberto Pereira Marques.
Segundo o Ministério dos Direitos Humanos, a expectativa é entregar até 400 certidões retificadas até o fim deste ano.