TV 247 logo
      HOME > Brasil

      Celso Amorim diz que Brasil negocia com EUA “com o cano do revólver na cabeça”

      Ex-chanceler critica investigação aberta por Trump e afirma que relações entre Brasil e EUA vivem seu pior momento em mais de um século

      Celso Amorim (Foto: Antonio Cruz/Agência Brasil)
      Luis Mauro Filho avatar
      Conteúdo postado por:

      247 - As relações entre Brasil e Estados Unidos atingiram “o ponto mais baixo em mais de um século”, na avaliação do ex-ministro das Relações Exteriores Celso Amorim, que atualmente atua como assessor especial do presidente Luiz Inácio Lula da Silva para temas internacionais. 

      Em entrevista à Bloomberg News, Amorim reagiu com dureza à abertura de uma investigação comercial contra o Brasil determinada pelo presidente Donald Trump, classificando a medida como uma intimidação que inviabiliza qualquer negociação.

      “A simples ameaça do uso da Seção 301 já cria um tumulto em quem acha que pode ser objeto de sanções unilaterais e é uma forma que torna a negociação muito difícil. É como você negociar com o cano do revólver na cabeça”, disse Amorim, comparando o gesto à aplicação de uma arma econômica.

      A investigação foi formalmente aberta na terça-feira (15) pelo Representante de Comércio dos EUA e tem como base a Seção 301 da legislação americana, dispositivo que permite a imposição unilateral de sanções contra países acusados de práticas comerciais consideradas “injustas”. Segundo o governo dos EUA, a apuração tem foco em temas como comércio digital, tarifas preferenciais, medidas anticorrupção, propriedade intelectual e desmatamento ilegal.

      Para Amorim, o objetivo da ofensiva é pressionar politicamente o Brasil, recorrendo a instrumentos agressivos de um sistema multilateral em crise. “A bomba atômica das armas comerciais” — como definiu a Seção 301 — revela, segundo ele, a assimetria nas relações comerciais e diplomáticas, agravada pela paralisação do mecanismo de solução de controvérsias da Organização Mundial do Comércio (OMC).

      “Sem um sistema multilateral funcional, prevalece a força”, advertiu o embaixador.

      Declarações da OTAN agravam tensão com o Ocidente

      Além da ameaça comercial, o governo brasileiro também foi alvo de críticas do secretário-geral da OTAN, Mark Rutte, que insinuou que Brasil, China e Índia poderiam sofrer sanções secundárias dos EUA por manterem compras de petróleo da Rússia.

      A fala foi considerada indevida por Amorim, que reagiu com veemência. “Esta é uma interferência totalmente indevida e mais absurda porque, bem ou mal, é uma organização da qual o Brasil não faz parte nem quer fazer parte. Ele tem que ter um pouco mais de responsabilidade no que ele fala.”

      Diplomatas brasileiros apontam que a postura de Rutte se choca com a conduta de países da própria aliança atlântica, como Hungria, Turquia e Eslováquia, que também mantêm relações energéticas com Moscou.

      Diplomacia brasileira tenta salvar o diálogo

      Horas antes do anúncio da investigação, o governo Lula havia enviado uma carta aos representantes comerciais dos EUA, reiterando a disposição para negociar e propondo alternativas discutidas desde maio. A resposta, até o momento, não veio.

      “O Brasil permanece pronto para dialogar com as autoridades americanas e negociar uma solução mutuamente aceitável”, diz o documento, que também ressalta o desejo de preservar “o relacionamento histórico entre os dois países”.

      Apesar disso, Amorim considera que os argumentos apresentados por Washington são frágeis e politicamente motivados. Com décadas de experiência diplomática, ele avalia que as atitudes recentes da Casa Branca sinalizam um retrocesso nas relações bilaterais e criam um ambiente desfavorável à cooperação.

      Relacionados

      Carregando anúncios...