Avião que caiu no Pantanal voava fora do horário permitido e sem licença para táxi-aéreo
Acidente em Aquidauana matou o arquiteto chinês Kongjian Yu, dois cineastas brasileiros e o piloto; aeronave de 1958 só podia operar em voos diurnos
247 - Um avião de pequeno porte que caiu na noite de terça-feira (23) na região da Fazenda Barra Mansa, em Aquidauana, no Pantanal sul-mato-grossense, operava de maneira irregular e voava fora do horário permitido. A informação foi confirmada pelo Departamento de Repressão à Corrupção e ao Crime Organizado (Dracco) e pelo Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos (Cenipa), em reportagem do g1. A queda matou quatro pessoas, entre elas o arquiteto chinês Kongjian Yu, considerado um dos mais renomados paisagistas do mundo, os cineastas brasileiros Luiz Ferraz e Rubens Crispim Jr., além do piloto e proprietário da aeronave, Marcelo Pereira de Barros.
Segundo as autoridades, o avião, um Cessna 175 fabricado em 1958, estava autorizado apenas para voos particulares sob regras visuais diurnas (VFR). A pista da fazenda só podia ser usada até as 17h39, mas o acidente ocorreu depois das 18h. Testemunhas relataram que a aeronave sobrevoou a região durante todo o dia, realizando pousos e decolagens, o que reforça a suspeita de um serviço clandestino de táxi-aéreo.
A Polícia Civil apura se a viagem, organizada por uma produtora para gravação de um documentário sobre cidades-esponjas, incluía transporte irregular de passageiros. Marcelo Pereira de Barros já havia sido investigado na Operação Ícaro, em 2019, por transporte ilegal. Na época, o mesmo avião foi apreendido por irregularidades na documentação e adulteração da identificação, tendo o certificado de aeronavegabilidade cancelado. Após três anos retido, o Cessna foi liberado pela Justiça, mas apenas para uso particular.
O acidente aconteceu a cerca de 100 metros da pista, durante uma tentativa de pouso. De acordo com o Corpo de Bombeiros, o piloto chegou a arremeter antes da queda, quando a aeronave explodiu ao atingir o solo. Inicialmente, funcionários da fazenda disseram que o piloto teria manobrado para evitar uma manada de queixadas (porcos-do-mato) na pista. A hipótese, porém, foi descartada. “A pista foi vistoriada e os animais já tinham deixado o local”, afirmou a delegada Ana Cláudia Medina, que investiga o caso. Para ela, a arremetida pode indicar que o piloto percebeu algum problema no momento da aproximação.
Equipes do Dracco preservaram a cena até a chegada de peritos do Seripa IV, braço regional do Cenipa, que agora analisa fatores como desempenho da aeronave, horários do voo e possíveis falhas de operação. O objetivo é identificar as circunstâncias do acidente, sem atribuição de culpa nesta etapa da investigação.
Os corpos das vítimas foram carbonizados e só poderão ser identificados por exame de DNA. Em respeito a uma tradição chinesa, o corpo de Kongjian Yu será periciado apenas após a chegada de familiares ao Brasil. A Fazenda Barra Mansa, onde ocorreu a tragédia, é uma conhecida área turística do Pantanal, frequentada por visitantes do Brasil e do exterior.