Tarifas dos EUA podem acelerar liderança chinesa em energia limpa
Em artigo de opinião, especialistas alertam que política norte-americana abre espaço para avanço global das tecnologias verdes lideradas pela China
247 – As mais recentes tarifas impostas pelos Estados Unidos sobre produtos de baixo carbono, combinadas à aprovação do chamado One Big Beautiful Bill Act, podem ter um efeito inesperado: reforçar a liderança da China no mercado global de energias limpas. A avaliação é de Nick Robins, presidente do Laboratório de Finanças para a Transição Justa no Instituto de Pesquisa Grantham sobre Mudança Climática e Meio Ambiente da Escola de Economia e Ciência Política de Londres, e de Bob Ward, diretor de políticas e comunicações do mesmo instituto, em artigo de opinião publicado pelo China Daily. Os autores ressaltam que as opiniões expressas não refletem necessariamente a posição do jornal.
Segundo Robins e Ward, a lei norte-americana, sancionada em 4 de julho, remove créditos fiscais e aumenta tarifas sobre diversos produtos de energia limpa, elevando custos e, na prática, estimulando maior dependência de combustíveis fósseis. Isso, afirmam, tende a criar obstáculos para produtores e consumidores de tecnologias renováveis nos EUA e abrir novas oportunidades para exportadores — especialmente os chineses.
Oportunidade estratégica para a China
Os especialistas defendem que o novo cenário pode colocar a China em posição ainda mais favorável na corrida global por tecnologias sustentáveis. Com investimentos maciços em energia solar, veículos elétricos e armazenamento de eletricidade, Pequim já domina setores-chave e concentra, junto com os EUA e a Europa, mais de 90% dos gastos mundiais em armazenamento de energia. A retração do mercado norte-americano, destacam, pode oferecer uma vantagem decisiva aos fabricantes chineses, que encontram campo fértil para ampliar exportações a países emergentes e em desenvolvimento.
A China já exporta mais painéis solares para economias emergentes do que para países ricos e, em 2024, vendeu quase 1,25 milhão de veículos elétricos ao exterior — cerca de 40% do total global. Mais de 70% da produção mundial desses veículos é chinesa, com foco principal no mercado interno, mas com crescente atenção à instalação de novas fábricas em mercados como Indonésia, Tailândia, Brasil, México e Turquia.
Energia solar e acesso global
A produção de painéis solares na China bateu recorde histórico em março de 2025. Em 2023, 44% das exportações do setor foram destinadas a mercados emergentes, que voltaram a registrar importações recordes em 2024. Desde 2022, a queda nos preços de painéis solares e turbinas eólicas chinesas tem potencial para transformar o acesso à energia limpa, especialmente na África, que hoje representa apenas 2% do investimento global no setor.
Países como a Nigéria têm ampliado significativamente suas importações de tecnologia chinesa, ainda que partindo de patamares baixos. Para os autores, este é um momento-chave para diversificar cadeias de suprimento, atrair investimentos e reforçar padrões ambientais e sociais no comércio de energia limpa.
Cooperação internacional e Belém 2025
Robins e Ward destacam iniciativas como a Solar Stewardship Initiative (“Iniciativa de Responsabilidade Solar”), que conta com a participação de grandes fabricantes chineses e definiu padrões abrangentes para enfrentar desafios ambientais, sociais e de governança. Eles defendem a criação de parcerias e joint ventures entre empresas chinesas e parceiros na África, Ásia, Europa e América Latina para impulsionar a transição energética global.
Com a Conferência das Nações Unidas sobre Mudança Climática marcada para novembro em Belém, no Brasil, os autores apontam que a prioridade deve ser mostrar como a liderança chinesa pode contribuir para a industrialização verde africana, gerar empregos e criar novas oportunidades de negócios. Para eles, a expansão global da China no setor pode ajudar a compensar o “abandono da liderança climática” pelos Estados Unidos e acelerar o avanço rumo às metas climáticas desta década.
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