Museu das Amazônias une ciência, arte e saberes tradicionais em defesa do clima
Novo espaço em Belém celebra a diversidade da floresta e propõe diálogo entre conhecimento científico e ancestral
247 - A Amazônia acaba de ganhar um espaço inovador dedicado à ciência, à arte e à valorização dos saberes tradicionais. O Museu das Amazônias (MAZ) foi inaugurado no último sábado (4), em Belém (PA), pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), no complexo Porto Futuro II. O projeto nasce como um dos principais legados simbólicos e científicos da COP30, reunindo múltiplas linguagens para abordar temas de sustentabilidade, diversidade e consciência climática.
A cerimônia contou com a presença da primeira-dama Janja da Silva, do governador do Pará, Helder Barbalho, e das ministras Margareth Menezes (Cultura), Marina Silva (Meio Ambiente e Mudança do Clima) e Luciana Santos (Ciência, Tecnologia e Inovação).
Durante a visita às exposições, o presidente Lula destacou o caráter transformador do espaço:
“O Museu das Amazônias é um presente do Brasil para o mundo. Aqui, mostramos que o conhecimento e a cultura são ferramentas para cuidar da floresta e das pessoas que vivem nela".
Um museu de múltiplas ciências
Entre as curadoras do MAZ está a ecóloga da Embrapa Amazônia Oriental, Joice Ferreira, integrante da Comissão Curatorial que elaborou a narrativa museológica baseada na diversidade biocultural da região.
“A base do Museu das Amazônias é científica, mas também sensível. Partimos das evidências e da escuta: o que é essencial transmitir sobre a Amazônia? Que histórias precisam ser contadas? E de que forma a arte pode traduzir essa pluralidade sem perder o rigor da ciência?”, explicou.
Para Joice, o museu é um espaço de integração entre diferentes formas de conhecimento, unindo a pesquisa científica às cosmologias indígenas, à sabedoria ribeirinha e à criatividade dos artistas contemporâneos.
“A crise climática é um eixo central do museu — não só como tema de exposição, mas como um chamado à responsabilidade compartilhada. É um convite para compreender que o futuro climático global depende, em grande medida, também do que acontece nas Amazônias".
A pesquisadora ressaltou ainda o papel simbólico da arte como instrumento de sensibilização:
“A Amazônia é biocultural e viva. A arte nos permite materializar a urgência climática de forma sensível, tocando corações e mentes. As obras estão aqui para esse despertar, para lembrar que cada visitante tem um papel. O tempo de agir é agora".
Saberes ancestrais e inovação
A secretária de Cultura do Pará, Úrsula Vidal, destacou o papel do museu como espaço de valorização da Amazônia em seus próprios termos.
“O MAZ inverte a lógica exótica que por tanto tempo dominou o olhar sobre a região. Não se trata de trazer soluções do mundo para a Amazônia, mas de revelar as soluções da Amazônia para o mundo”, afirmou.
Para Úrsula, a floresta é um verdadeiro laboratório de resiliência climática, e suas arquiteturas indígenas e ribeirinhas representam exemplos de adaptação aos ciclos da natureza. A curadoria do museu, segundo ela, propõe um novo paradigma de governança sustentável, baseado no respeito, na ciência e no protagonismo dos povos locais.
Exposições de estreia
O MAZ foi inaugurado com duas mostras principais. A primeira, “Ajuri”, foi concebida por uma curadoria tripla formada por Francy Baniwa, Joice Ferreira e Helena Lima (Museu Goeldi), reunindo artistas amazônidas e obras imersivas que exploram a diversidade biocultural da região.
A segunda, “Amazônia”, apresenta mais de 200 fotografias em preto e branco de Sebastião Salgado (1944–2025), resultado de sete anos de expedições do renomado fotógrafo, agora homenageado postumamente.
Amazônia plural e estratégica
O bioma amazônico se estende por nove países — Brasil, Bolívia, Peru, Colômbia, Venezuela, Equador, Guiana, Suriname e Guiana Francesa. O Brasil abriga cerca de 60% da floresta tropical do planeta, o que o torna protagonista nas discussões sobre conservação, soberania e mudanças climáticas.
Com o Museu das Amazônias, o país reforça seu papel central na construção de uma consciência global voltada à preservação ambiental e ao reconhecimento da floresta como fonte de conhecimento, cultura e futuro compartilhado.