Trump é recebido na Escócia com sarcasmo a quem transforma origem em espetáculo e negócios em chantagem
Nem mesmo a terra natal de sua mãe está disposta a aplaudir um homem que tenta transformar origens em espetáculo
Em passagem pelo Reino Unido, Donald Trump tentou transformar sua visita à Escócia em um reencontro simbólico com suas origens familiares. No entanto, o que encontrou foi um cenário repleto de sarcasmo, protestos e um povo disposto a deixar claro que não o considera um dos seus.
Trump nunca escondeu seu orgulho pelas raízes escocesas.Sua mãe, Mary Anne MacLeod, nasceu na ilha de Lewis. Mas o que o presidente dos EUA recebeu ao chegar ao aeroporto de Aberdeen foi um banho de realidade escocesa. Cartazes irônicos, gaitas de fole desafinadas e trajes típicos modificados com estampa de dólar deram o tom da recepção.
Um dos cartazes mais fotografados dizia: “Yer Da Sells Avon”, uma expressão típica do sarcasmo escocês que ridiculariza a masculinidade com humor ácido. Outros manifestantes usavam kilts parodiando símbolos do capitalismo norte-americano e executavam músicas populares de forma propositalmente desafinada.
Golfe cercado de ironias afiadas
A viagem foi promovida como uma “inspeção” aos seus empreendimentos de golfe no país. Mas, em Turnberry, um dos locais mais simbólicos para Trump, os protestos falaram mais alto que os tacos. Ativistas feministas vestidas de rosa desfilaram com faixas que diziam: “He’s no’ our bairn”(ele não é nosso menino), zombando da tentativa de Trump de se colocar como “filho da Escócia”.
Outro cartaz ironizava seu penteado com a frase: “We Shall Overcomb”, trocadilho com o hino dos direitos civis americanos “We Shall Overcome”.
O sarcasmo como resistência política
Se nos Estados Unidos Trump ainda consegue mobilizar tanto adoradores quanto críticos raivosos, na Escócia a reação é mais sofisticada. Os escoceses preferem o riso afiado à indignação ruidosa. O sarcasmo, tradição cultural escocesa, se tornou uma forma eficaz de resistência à figura do magnata.
Jornais como The National e The Scotsman destacaram a irreverência dos protestos. O Daily Record foi direto ao ponto: “He’s back — and still unwelcome”. A BBC Escócia, mais sóbria, relatou que “o presidente dos EUA visitou seus empreendimentos e foi recebido por manifestações cívicas”.
Empreendimentos controversos, promessas vazias
Desde que Trump iniciou seus investimentos no setor de golfe escocês, as promessas de desenvolvimento e prosperidade deram lugar a denúncias de danos ambientais, processos judiciais e atritos com comunidades locais. Para muitos escoceses, ele representa a arrogância do investidor estrangeiro que acredita que tudo pode ser comprado — inclusive o respeito.
Filho rejeitado e símbolo de oportunismo
Trump gosta de imaginar-se como um líder global, com raízes nobres e aprovação internacional. Mas na Escócia, é visto como um parente distante e embaraçoso. Aquele que aparece em festas de família apenas para causar constrangimento.
Ao tentar fazer da Escócia um palco para sua narrativa de legitimidade familiar e empresarial, recebeu de volta o que muitos consideram ser o que realmente merece: ironia, frieza e nenhuma reverência.
Uma despedida sem saudade
Trump deve deixar a Escócia nos próximos dias. Sairá, provavelmente, com o discurso de sempre. O de que foi “mal interpretado”. Já a Escócia continuará fiel a si mesma. Orgulhosamente irônica, intransigente na dignidade e imune à bajulação bilionária.
A mensagem dos escoceses, afinal, foi clara: nem mesmo a terra natal de sua mãe está disposta a aplaudir um homem que tenta transformar origens em espetáculo, e negócios em chantagem.
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