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      Gustavo Tapioca

      Jornalista formado pela Universidade Federal da Bahia e MA pela Universidade de Wisconsin-Madison. Ex-diretor de redação do Jornal da Bahia, foi assessor de Comunicação Social da Telebrás, consultor em Comunicação do Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef) e do (IICA/OEA). Autor de "Meninos do Rio Vermelho", publicado pela Fundação Casa de Jorge Amado.

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      Tarifa de 50% ao Brasil tenta salvar Bolsonaro e coloca Lula no centro de uma cruzada internacional da extrema-direita

      Não se trata de uma questão comercial. Trata-se de uma escalada

      O presidente Luiz Inácio Lula da Silva usa boné com frase "o Brasil é dos brasileiros" (Foto: RICARDO STUCKERT)

      É assim que o New York Times abre reportagem de sexta-feira (11), analisando os bastidores da decisão do presidente norte-americano de colocar o Brasil no centro de uma cruzada internacional da extrema-direita. Segundo o jornal, Trump age movido por dois objetivos principais: retaliar o governo Lula, que considera parte de uma aliança progressista global, e interferir diretamente no processo judicial que ameaça encerrar de vez a carreira política de Bolsonaro.

      A reportagem revela ainda que o gesto foi articulado com figuras próximas ao bolsonarismo, incluindo Eduardo Bolsonaro, e que a medida representa uma virada inédita na política externa dos EUA com sanções aplicadas não por interesses comerciais mas por fidelidade ideológica. A tarifa anunciada atinge o Brasil de forma desproporcional e deliberada, como um gesto de força política contra Lula e de solidariedade aberta ao bolsonarismo.

      A ultradireita transnacional entra em cena

      Trump não age sozinho. Age como líder informal de uma nova internacional reacionária. Ao acionar a máquina tarifária dos EUA para proteger Bolsonaro, envia um recado direto ao Judiciário brasileiro e aos eleitores do campo conservador: "vocês têm em mim um aliado capaz de pressionar governos democraticamente eleitos para proteger seus líderes de extrema-direita". É também uma mensagem ao G20, à ONU e ao BRICS: a política externa americana será usada como arma ideológica, não diplomática.

      Essa decisão está longe de ser apenas um gesto simbólico. A sobretaxa atinge diretamente setores estratégicos da exportação brasileira, como etanol, aço, alumínio e carnes. Os impactos já são sentidos. A cotação do real despencou mais de 2%, e analistas projetam retração em setores que dependem do mercado norte-americano. Na prática, Trump está exportando a crise bolsonarista. E a fatura chegou primeiro ao agronegócio brasileiro.

      Lula reage com firmeza 

      O governo Lula não demorou a responder. Ao mesmo tempo em que chamou para consultas o encarregado de negócios dos EUA e convocou reunião emergencial com o Itamaraty, Lula articula uma reação coordenada no âmbito do BRICS e da OMC. Ainda que este último esteja paralisado pelos próprios vetos norte-americanos à sua corte de apelação, a medida sinaliza que o Brasil não aceitará calado a ingerência.

      Mais do que isso. Lula vê nessa crise uma oportunidade de consolidar alianças com a China, Índia e União Europeia, parceiros que já vinham manifestando desconforto com a crescente tensão entre Washington e o sul global. A rota recém-anunciada entre o Brasil e o porto de Chancay, no Peru, com apoio logístico de Pequim, ganha agora contornos ainda mais estratégicos.

      Bolsonaro, o “mensageiro” de Trump

      Nos bastidores, circula a informação, também publicada por veículos como El País e Huffington Post, de que o próprio Eduardo Bolsonaro teria sido o intermediário do pedido junto a Trump, viajando para Miami semanas antes do anúncio. Bolsonaro, por sua vez, saudou a medida como “um gesto em defesa da liberdade” e atacou Lula, dizendo que o país “caminha para o isolamento”. 

      A guerra é política

      Ao tentar blindar Bolsonaro, o presidente americano coloca em xeque o direito soberano do Brasil de processar seus golpistas, e ameaça inaugurar uma era em que líderes autoritários se protegem mutuamente à margem da legalidade internacional.

      Não se trata, portanto, de uma questão comercial. Trata-se de uma escalada. O uso da diplomacia tarifária como instrumento de chantagem política. Se Bolsonaro é absolvido com base em pressão externa, quem será o próximo? A mensagem é clara. Se a extrema-direita conseguir liberar Bolsonaro no Brasil, os aliados de Trump pelo mundo terão passe livre.

      Lula, ciente da gravidade, parece pronto para transformar a crise em plataforma. Está em jogo não apenas o comércio bilateral, mas o papel do Brasil no novo tabuleiro geopolítico global. A resposta terá de ser à altura: firme, multilateral e com a consciência de que, neste momento, defender a soberania nacional é também defender a democracia.

      * Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.

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